segunda-feira, 5 de maio de 2008

RESPIRO: Em casa de ferreiro...

Tarde da noite, como não fui pra Campinas minha semana começa mais cedo. Amanhã pego no batente bem antes que o galo. Por isso, já já vou dormir. Mas enquanto organizo mais histórias sobre as viagens para Campinas, segue um respiro. Um texto nada ver com viagens, tampouco com Campinas. Vou procurar fazer isso hora ou outra e soltar alguns textos aqui e ali. Esse é de 2006, uma bobagenzinha sobre ditados populares. Quem quiser, escolha a poltrana (janela ou corredor) e fique à vontade. Eu vou dormir. Até a próxima viagem:

Em casa de ferreiro...

O cara era ferreiro. Não reclamava, pelo contrário, se orgulhava de sua profissão. Em sua casa havia um jogo de espetos de ferro mesmo. Era bem o tipo de Jorge, nosso amigo ferreiro, louco por contrariar todo mundo. Um belo dia Jorge acordou cedo; precisava arrumar uma goteira que não deixava ninguém dormir naquela casa há dias. Na noite anterior subira no telhado para ver o motivo da goteira: vários gatos das mais variadas cores faziam a algazarra em cima de sua casa. De manhã, voltou ao telhado, remendou o buraco, secou o chão onde pingara por dias e notou que a água batia numa pedra dura do assoalho. Não deixara nem marca.

Jorge saiu de casa para os afazeres do dia. Deu um beijo em sua esposa, uma feia mulher, o amor de sua vida. Mas nem por isso não deixava de reconhecer: que monstra! Estava feliz, era uma má companhia que não lhe fazia bem, mas preferia isso a viver só. Caminhando pela rua, notou três macacos empoleirado num galho só e, no chão, uma galinha comendo milho aos bocados. Passou em um Café para comer sardinha na brasa e ajudou um amigo lhe passando a brasa. Chegando à ferraria foi ter com o chefe - um cara falador que vivia de boca aberta, mas os mosquitos não chegavam nem perto:

- Jorge, meu bom Jorge. Como empregado do mês por seis vezes consecutivas tenho um presente para lhe dar. Um cavalo.

Jorge merecia de fato o prêmio, era o melhor empregado da ferraria, fazia tudo com muita pressa, e o trabalho saía sempre perfeito. Imediatamente, Jorge olhou para o cavalo com aquela cara de tacho. Pegou nos beiços do animal e verificou sua dentição. Não quero, disse, tome, leve-o daqui. O homem estava com maus humores aqueles últimos dias.

Tudo começou quando lhe recusaram uma passagem a Roma por um motivo besta: Jorge não tinha boca o suficiente para tal empreitada. Abriu um processo contra a empresa. Passou o tempo, demorou, e veio a reposta: caso perdido. Depois disso, o homem passou a odiar essas frasezinhas de efeito que todo mundo diz. Virou do contra. Sua primeira atitude foi comprar o jogo de espetos. Depois comprou um cão e dispensou o gato – o cachorro latia que era o diabo, e mordia forte também. Pegou os passarinhos da gaiola nas mãos e os lançou ao céu, preferia vê-los voando. E por aí foi, mudando o rumo de sua vida e fazendo que a vida mudasse junto.

Mas então morreu. Não tinha boa intenção nessa vida de Deus, ainda assim foi parar no inferno.

5 comentários:

Deninha disse...

ai socorro!! será que consigo decodificar todos os ditados no texto?
Por sinal.. Isso tudo me lembrou Paul is dead

Rescunhos de Viagens disse...

Contei 16 frases. Alguém se dispõe a listá-las aqui?

Anônimo disse...

eu li na época esse texto.

mui divertido.
ou seria MUIrilo divertido?

@PatrickJesusLuz disse...

Muito bom, bem divertido.

@PatrickJesusLuz disse...

Muito legal o texto, bem divertido.