sábado, 31 de março de 2012

Dia 2: Monumentos no pós-morte

Oi mamma

Segundo dia na Itália (16/02). Dia para bater perna. Peguei o trem urbano, o “tram” (ele é elétrico e se mistura no meio dos carros, bem louco) e fui até o Cimitero Monumentale. Muito grande, tem uns túmulos do tamanho de igrejas, esculturas enormes, muito interessante. Deixa o cemitério da Ricoleta, de Buenos Aires, no chinelo. Aí fui ao centro. Vi o lindo Duomo e a Galleria Vittorio de novo, e fui até o Palácio Reale onde tem exposições. Não vi nada.


 Cimitero Monumentale: obras de arte no pós-morte

A Piazza del Duomo estava apinhada. Vai ter jogo Milan X Manchester hoje. Puts, não vou. Cheio de inglês gritando a música do time e bebendo cerveja. Aí fui ao Teatro Scala. Hoje tem encenação do Dom Quixote, um balé. Também não vou ver. Estou querendo ir à Gênova só para ver uma apresentação de Nabuco, do Verdi. Este sim valeria a pena. Mas o teatro é bem bonito, tem um museu também com a histórias de óperas lindas e que um dia vou ver, como Turandot, La Traviata, Carmen, La Boheme, Ottelo, entre outras.


 Na Piazza, próximo à Galleria

Fui ainda à Pinacoteca, só para dar um giro. Mas tinha andado demais, meus pés doíam. Antes, almocei pizza. Uma pizza enorme de margherita só para mim, com vinho e uma sobremesa. Bem bom. Quando saí do cemitério, passei em uma rua de chineses, tomei café em um bar de brasileiros e comprei um cachecol. Estava bem frio.


Na Itália, não existe o conceito "pizza em pedaço"

Aqui na casa do Tommy tem aquecedor e está bem quentinho. Ontem, quando deitei na cama, cheguei a ficar comovido com o conforto (não tinha dormido no dia anterior à viagem e depois só dormi no voo da Iberia - péssimo). O pessoal é muito receptivo, eles não estão aqui agora, mas o Tommy mandou uma mensagem dizendo que está para chegar. Estou com os pés esticados, para relaxar. Eles merecem.

Piazza del Duomo apinhada

Amanhã vou ver a "Última Ceia". Numa dessas, vou já amanhã para Verona. Mas vamos ver, os amigos do Tommy estão arrumando um futebol e talvez eu fique um dia mais só para não fazer desfeita.

Beijão mama, Milano é bem bonita (e olha que tinham me falado mal da cidade).

Dá um beijo no povo.

Murilo

sexta-feira, 30 de março de 2012

Dia 1: Na casa de Tommy

Oi mamma, tudo bem? Pela primeira vez, este "mamma" tem razão de ser. É o meu primeiro dia na Itália (dia 15/02). Estou em Milano, numa noite fria, entre vários amigos. Estou na casa de Tommy, Élio e Mário, três estudantes muito gente boa aqui de Milano. Eles acabaram de preparar uma bela cena, com direito a um delicioso vinho. Está meio frio e os caras deixaram o vinho na sacada para dar uma esfriada. Tudo muito bom para um dia cansado. Te conto por quê.

O voo de Foz a São Paulo deu uma atrasada. De São Paulo a Madri atrasou bastante também. O voo não foi dos melhores, nem se compara com a KLM que faz conexão em Amsterdam. Tinha muito criança e a gente pode definir a qualidade do voo pela quantidade de miudos que está nele. Mas vá lá, conheci a Cristina e a Camila, que me deram outras boas sugestões da Itália.


No início da viagem, Itália era só passagem. Depois resolvi explorar um pouco mais, chegando a Milano e descendo ao Sul do país. Agora quero conhecer também o Norte. Acrescentei Verona e Venezia. Vou ficar menos tempo na Grécia.

Frio no interior do Duomo e quadros belíssimos expostos

Aqui, está ótimo. Passei um pouco de frio a tarde e tive que carregar todas as malas o dia todo. Mas valeu a pena. Conheci o Duomo, uma igreja enorme e linda. Lindíssima. Depois subi a torre do Duomo. Quando o guarda me viu com as duas malas gigantescas perguntou: "Sicuro?". Cheguei bufando lá em cima, com as pernas bambas. Depois dei umas bandas. Andei um monte até me encontrar com Tommy e sua turma, na estação de metrô, no alto de uma curiosa escada musical.

Il Duomo di Milano no primeiro dia na Itália

O cara representa o que há de melhor do espírito CouchSurfing. Como viajante, ele sabe o que viajantes precisam. Foi muito atencioso, apresentou os amigos e cedeu o quarto e a cama para eu dormir. Passei toda a janta ouvindo esta italianada falando bem rápido (até que entendi alguma coisa). Estou falando em italiano com eles, quando não entendo algo, pergunto em espanhol. O Tommy insiste em conversar comigo em espanhol, o que dificulta o aprendizado. Conversamos bastante sobre as diferentes regiões da Itália, seus distintos acentos e costumes, e eles me deram mais dicas de lugares para conhecer. Vou ter que rifar a Grécia.

Cena italiana entre amigos: Clara e Cammy na casa de Tommy, Élio e Mário

Amanhã já tô com o roteiro montado. Os lugares que valem a pena conhecer em Milano. Depois de amanhã, vou ver "A Última Ceia", de Da Vinci. Aí quero ir para Verona ou Venezia. Estava meio preocupado hoje a terde, carregando as malas pesadas de lá pra cá, sem lenço, nem documento. Mas com a recepcão tão calorosa desses amigos italianos, me senti de volta em casa. Isso é bom, um aprendizado para saber o bem que fazemos ao receber as pessoas em casa.

Bem, vou indo dormir. Agora já passa de uma da manhã por aqui. Amanhã tem coisa para fazer.

Beijo pra vc e pro pessoal.

Arrivederci,

Murilo

quinta-feira, 29 de março de 2012

Novo especial: Cartas da Itália

Em fevereiro e março de 2010, fiz uma viagem de 35 dias entre Itália, Atenas, na Grécia, e três cidades no Egito. Desde o primeiro dia, escrevi regularmente, primeiro para minha mãe, a mamma, e depois para o pai. Acabou virando metódico – todo o dia eu escrevia uma espécie de diário para estes leitores seletos: meus pais.

Depois que acabei de escrever o especial sobre a viagem nos Andes, fui dar uma olhada nas outras viagens. Lembrei-me dos e-mails e resgatei, em minha caixa de enviados, todos eles. De início, queria pegar as informações e reescrever aqui no blog. Mudei de ideia. Os textos estão cheio de sentimentos e têm o calor do momento que foram escritos. Seria um desperdício editá-los. Vou publicá-los na íntegra, em forma de “cartas”. Sem cortes.

Nasce assim, o terceiro especial deste blog: “Cartas da Itália”, assim chamado porque foi neste país que passei a maior parte daquelas férias. Embora impreciso, permito-me esta licença poética.

O que quero destacar nestes próximos 35 textos é um pouco do espírito CouchSurfing, esta comunidade de viajantes em que pessoas recebem gente estranha em casa sem pedir nada em troca. Tive muita sorte com os CS durante a viagem. Tanto aqueles que me receberam em suas casa até os outros que apenas passaram algumas horas comigo.

A viagem foi bastante solitária. Bem diferente do especial dos Andes, em que conheci um monte de gente. Mas foi também a viagem do CouchSurfing. Sem este pessoal, não teria feito metade das coisas que fiz. E talvez não teria o que colocar neste blog.

Sem mais delongas, seguem os textos, sempre usando os meus pais como interlocutores (não estranhem). Cada dia estará sinalizado no começo do post, mantendo o esquema original. E, de forma diferente que foi nos outros especiais, “Cartas da Itália” não vai impedir que eu escreva sobre outras viagens. Para ler todos textos um atrás do outro, basta clicar na aba ali em cima.

Aos queridos leitores: “Cartas da Itália”.

terça-feira, 27 de março de 2012

Vida de aeroporto

As poltronas do aeroporto Jorge Chávez, de Lima, não são tão confortáveis quanto as do Cumbica, em Guarulhos. Sei lá, nada ergonométricas, pouco cômodas para uma noite de sono. Não era a primeira vez que eu viraria a noite dormindo em aeroporto e, regra da vida, não será a última. Mas as doze horas que passei no aeroporto de Lima tinham um quesito especial: desta vez, a culpa não foi minha.


Cadeiras ajeitadas e minha última viagem adiada

Vocês já devem ter lido aí pelo blog quando um cochilo instantâneo me fez perder o vôo para Foz do Iguaçu [relembre]. Também lerão mais pra frente sobre as 24 horas que passei no aeroporto de Madri. Em Lima, aculpa foi de um problema de comunicação. Conto pra vocês.

Durante meus mais de 20 dias pela América do Sul, pude treinar bem o portunhol. E o idioma estava afinadíssimo quando discuti com a atendente da LAN, empresa aérea chilena onipresente no subcontinente. Na época, ela fazia parceria com a TAM para vôos ao Brasil (hoje, as duas se fundiram).


Manhã no aeroporto. Bora? Deu?

Quando apresentei minha reserva de passagem, a mulher começou a dedilhar o computador. Como isso me irrita. Ela olhava na tela, caminhava para um lado, conversava com colegas, digitava de novo, fazia cara feia. Na hora, peguei o gravador e salvei a mensagem:

“A mulher não para de bater naquele negócio; está começando a me dar nos nervos. Estou começando a achar isso meio complicado. Vou esperar”.


Puto, mas, vá lá, bora tentar aproveitar o aeroporto

Dito e feito. A LAN conseguia ver a minha reserva, mas não conseguia liberar a passagem. Liguei para a TAM no Brasil, gastei meus últimos soles em telefonemas. Não adiantou.Perdera o voo e só viajaria no outro dia. Tive que passar a noite no aeroporto.

Terminal

É interessante a vida no aeroporto. Quando escrever sobre minha viagem à Itália, falo sobre as 24 horas no Barajas, de Madri. A diferença é que o de Lima é muito chato. Perde até para a rodoviária do Tietê, em São Paulo. Dei um giro rápido e me demorei procurando um lugar para esticar as pernas.


Seis por meia dúzia. A última mordida peruana

Gastei meus últimos soles com uma simbólica mordida final da lhama peruana. Depois de tudo que gastei com câmbio, com o Western Union, comprando reais, virar dólar, depois real, depois peso chileno, bolivianos, soles, ainda tive que pagar uma obscura taxa de aeroporto de 30 dólares. Não tinha dinheiro nenhum, mas, lembram-se daqueles 800 reais com os quais comecei a viagem? Sobraram R$ 100. Passei por mais um câmbio absurdo e deixei meus últimos trocados.

Queria chegar logo ao Brasil.

Depois de uma noite mal dormida, passei mais uma tarde em Guarulhos. Em solo nacional, pude abusar do cartão de débito. No fim da noite, peguei o bom e velho voo das 23h45, aquele dos tempos de Campinas. Chegaria de madrugada em Foz do Iguaçu para trabalhar no outro dia. Faz mal não, tudo valeu a pena.

Fim de viagem.

domingo, 25 de março de 2012

Lima caótica

Em meu último dia de viagem (ao menos eu imaginava ser o último), fui à Punta Hermosa conhecer alguma praia bacaninha. Uma hora e meia de ônibus e barulho. Muito barulho.

Playa Blanca, areia negra

Em Punta, cheguei à Playa Blanca. O nome é estranho dada a cor negra da areia. Deve ser pela neblina que teimava em estragar as paisagens de Lima. Caminhei pela areia, molhei os pés, entrei onde não devia.

Romance no centro de Lima

Almocei ceviche e tomei uma Polar antes de voltar ao centro de Lima. De ônibus novamente, passei por bairros feios, com lixo e ferragens – parece aqueles filmes futuristas de um mundo caótico e abandonado.

Casinhas coloridas

O centro, aliás, é todo caótico. Eu estava farto do barulho das máquinas. Parecia que a cidade toda estava em obras. Passei por uma livraria, conversei com o livreiro; andei por uma feira – no som, flautas de bambu tocavam o tema de Titanic. No Brasil, peruanos flautistas tocando música brega é bastante comum... meu tio Ademir que o diga.


Forever alone

Na Plaza de Armas (toda cidade peruana tem a sua), vi o palácio do governo. Era fim de tarde, o sol deixava ainda mais amareladas as construções antigas. Dei mais algumas bandas, me arrependi de não ter pego a água do rio Rímac para a coleção, e voltei ao hostel.

Fim de tarde. Fim de viagem

Fui de táxi até o aeroporto, conversando sobre o fim da viagem. Viajar é ótimo, mas voltar para a casa é melhor ainda. Sentia saudades do Brasil, do idioma, do feijão e dos meus parentes e amigos.

Mais adiaria por mais algumas horas o reencontro.

domingo, 11 de março de 2012

28 anos em Lima

Foi na capital peruana que comemorei meus 28 anos de idade. Aniversário sozinho como acabaria sendo outros tantos em viagens. Comprei um pedaço de bolo de chocolate, alguns salgados, uma lata de leite “Pura Vida”, fui até a praça central de Miraflores e preparei minha festa particular. Ajeitei-me em um banco, esperei que não tivesse muita gente ao redor e assoviei, em vibrato, os parabéns para mim, assoprando a “velinha” – as faíscas de um isqueiro. O pedido? Que muitos outros aniversários fossem exatamente como aquele.


Aniversário com leite, bolo e parabéns em vibrato

Os dois dias que estive em Lima foram os mais forever alone da viagem. Se em outras praças sempre encontrava algum maluco com mesmo espírito, ali estava por conta. O jeito foi caminhar sozinho pela cidade.


Era 27 de fevereiro e eu tava batendo perna


Gatos e transeuntes na fauna da praça central de Miraflores

Era 27 de fevereiro e eu batia perna pela Avenida José Larco em direção à praça central de Miraflores. Vi estudantes aproveitando o sol, pessoas sentadas em monumentos e uma porção de gatos no pé da Igreja Virgem Milagrosa.

Pelo caminho liguei para casa de meus pais para ganhar os parabéns. Troquei, enfim, meus últimos pesos chilenos. O câmbio estava pela hora da morte. Dava adeus àquelas cédulas que me acompanharam desde o início.


Espelho d'água na Lacomar. Bela vista da praia

Depois do ritual de aniversário, conheci a Lacomar, um centro comercial construído em uma falésia com uma vista impressionante do mar. Uma neblina estranha, no entanto, estragava a vista. Caminhei pela praia, caótica como as nossas, só que virada para o outro lado do mundo.


Tudo branco: estranha névoa atrapalhava a vista

Sol nas costas

Tinha me cuidado a viagem toda para não ficar com marca de caminhoneiro. No penúltimo dia, sol a pino e eu caminhando por Miraflores. Deu no que deu. O sol continuou na parte da tarde, no bairro vizinho, Barranco, o menor de Lima e o mais bonitinho. Em uma escola, tinha festa com apresentações culturais. Curti sem entender bem o que era.




Visões de Barranco, pequeno e bonitinho

No fim do dia, de novo na praça central. Poetas declamavam poesias em uma espécie de arena. Anotei esta: “Temos que entender que o não entender também faz parte do entender”. Não lembro o autor.


Praça central de Miraflores durante a noite. Fim de dia

Passei as últimas horas de meu aniversário na feira de artesanatos comprando presentes para a família. Depois, caminhei soluçando pela Avenida José Lerco de volta ao hostel. Os carros buzinavam a bel-prazer. Deus, como os peruanos gostam de buzina. Lembrei-me das curvas montanhosas em Santa Tereza ou a chegada em Cusco – no Peru, buzina-se para tudo.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Sem paradas em Paracas

Quando vi pela janela do ônibus as palmeiras e o mar, o cotovelo doeu. O sol, em sua descida, anunciava que a paisagem seria lindíssima. Mas não pude apreciar. O “sôfrego eu” (lembram-se dele?) ganhava mais uma. Por causa de meu problema de dinheiro criado lá no início da viagem (relembre aqui), não pude parar na Reserva Nacional de Paracas. Joguei as pernas para cima. Fazer o quê? E segui viagem a Lima.

Como não pude parar, o jeito é aproveitar a viagem

O ônibus era bacana. Teve um simpático bingo entre os passageiros e a vencedora levou uma garrafa de pisco. Fiquei por pouco. Sem parar em Paracas, apreciei o pôr-do-sol na estrada, com as pernas encostadas no vidro da frente.


Cena da janela. Lima seria a última parada

Fiz amizade com uma peruana de Lima com quem fiquei conversando a viagem toda. Ela deu boas dicas sobre a capital do país e me sugeriu o hostel Peru Backpackers, no bairro de Miraflores. Quando chegamos a Lima, a família dela me deu uma carona até o hostel. Já era noite e eu tinha mais dois dias de viagem.

domingo, 4 de março de 2012

Em Nasca, linhas eternas

Primeiro a baleia, bem pertinho da pista de pouso. Depois os trapézios e o astronauta. Então, a mais famosa: o macaco. Ao lado, o cachorro, depois o condor. Aí, mais duas famosas, a aranha e o colibri. O monomotor cruza a Panamericana Sur e avistamos alcatraz e o papagaio. De volta do lado de cá, a árvore e, por fim, as mãos. Foram 40 minutos de sobrevoo pelas Linhas de Nasca. Eu estava sem fôlego.

 O belíssimo Colibri com suas asas de 66 metros.

Sempre tive curiosidade de conhecer as famosas linhas localizadas no sul do Peru, no deserto altiplano de Nasca que se estende por 80 km entre as cidades de Nasca e Palpa, em uma área total de 500 km². Olhava com ressalvas as fotos deste conjunto de geóglifos criado pelo povo nasca entre os anos 400 e 650 d.C. Mudei de ideia ao vê-las “de perto”.

O macaco, uma das figuras mais famosas.

As linhas são gigantes figuras que chegam a atingir 270 metros de comprimento. Algumas se resumem a meros traços, outras são bem mais complexas, como o colibri de 66 metros de asas. Elas foram desenhadas removendo as pedras avermelhadas e cavando trincheiras de seis centímetros de profundidade. Foram utilizadas, possivelmente, ferramentas bastante simples. Assim, o chão esbranquiçado ficava descoberto e, pelo contraste, formavam-se os desenhos.

Pelas características do deserto – clima seco, sem vento e isolado, as linhas estão preservadas até hoje. Elas foram descobertas nos anos 30, quando começaram a viajar de avião sobre a área. Os especialistas divergem sobre suas funções, mas as teorias passam por orientação astrológica, marcação do fluxo de água e, claro, o significado religioso.

Em Nasca, sem dinheiro

No ônibus, um pouco de cultura inca para driblar a programação da TV.

Chegara a Nasca cedo, vindo de Cusco. De ônibus, ziguezagueamos novamente os Andes em direção ao mar. A previsão era de 14h de busão, com chegada às 8h30. Passavam das 10h30 e ainda estava na estrada por causa de obras na pista.

Parada na estrada. Nós voltamos aos Andes.

Não reclamei, o ônibus leito era ótimo, o melhor da viagem. Transformava em carroças os coletivos bolivianos. Só o que incomodava era a programação televisiva: aquelas comédias da TV canadense com pegadinhas e risadas. Ignorava. Pela janela, via a região tornar-se desértica. A exuberância dos Andes ficava mais uma vez para trás.

Em Nasca, sem soles. A cidade respira as linhas.

Nasca respira as linhas. Com poucos soles e muitos pesos chilenos no bolso, tive um tempo para bater perna pela cidade. Ainda estava meio jururu por causa da despedida de Marco, no dia anterior em Cusco - depois de ter deixado meu amigo, fui mais uma vez ao centro de artesanato Qoricancha e vi os manifestantes queimando pneus na rua. E passei em uma construção para ver a famosa pedra de 12 ângulos. Só isso.

 A pedra de 12 ângulos, última imagem de Cusco.

Mas em Nasca era hora do sobrevoo. Estava no aeroporto Maria Reiche, na municipalidade distrital de Vista Alegre. O piloto dissera que eu seria o copiloto, só pra me animar. No banco de trás, um casal europeu. O monomotor pegou velocidade, voamos.

  Antes do sobrevoo. Eu seria o "copiloto".

Meus parceiros de viagem: 40 minutos de voo.

Pelo sistema de som, ouvia o piloto cantar, em espanhol e inglês, os nomes das linhas. Eu estava empolgado. Não sabia se tirava fotos, filmava ou apenas curtia o momento. Fiz os três. E me senti realizado por conhecer mais um patrimônio da humanidade. Missão cumprida.