segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Berlim Cor-de-rosa

Imagine Priscila, a rainha do deserto, causando com sua imensa capa prateada; acompanhando o caminhão, o Patrick Swayze deitando o cabelo em “Para Wong Foo, Obrigada por tudo”; e ainda, o elenco completo de “Gaiola das Loucas”. Tudo junto, loucas e desvairadas. Mas com sotaque alemão. Foi neste mundo cor-de-rosa que Juttel e eu baixamos ao chegar em Berlim.

Parada estratégica na estação de trem. Ajeitando as fotos e a cara de sono

A viagem de trem terminara na estação Berlin Hauptbahnhof. Fizemos nossa meia hora de descanso: procurar um locker para deixar as bagagens (sim, agora tenho bagagem), comer alguma coisa, buscar mapas para orientar o passeio. Estávamos cansados, mas prontos para outra. E meu parceiro de viagem todo orgulhoso aspirava o ar de seu país de origem.

Da Berlin Hauptbahnhof para o mundo. Mas seguindo a seta no mapa

Saímos da estação seguindo uma seta no mapa, o que tivesse de turístico pela frente veríamos. Berlim é linda, por isso, o passeio de um só dia soou um tanto instantâneo. Mas valeu a pena.


Ar alemão em alvéolos pulmonares alemães, o Juttel estava em casa

Administração teutônica


E o primeiro ponto turístico que cruzou nossa seta guiadora foi o Reichtag, o Parlamento alemão. Legal a miscelânea do histórico com o moderno. O prédio antigo em contraste com a construção circular de aço e vidro. Aliás, essa contradição estaria presente em outros momentos de nossa curta estada.

O Reichtag. Símbolo do histórico e do moderno, tudo junto

Dali seguimos em direção ao majestoso Portão de Branderburgo, famoso por dividir as duas Alemanhas no século passado – ou permitir o acesso de lá pra cá e de cá pra lá, afinal, é um portão.

Portão de Branderburgo e minha cara de tacho. Sei que isso é um ponto importante, disse na ocasião

Tomado pelo espírito da final da Eurocopa, o Portão era palco de uma incrível fanzone que, um dia depois, ficaria lotada de alemães ávidos por vencer espanhóis no campo (mas isso é mais pra frente).

Memorial do Holocausto: tocante

Mudamos nossa seta e seguimos o caminho original do Muro de Berlim, estando ora no oriente ora no ocidente. Fomos dar de cara com um praça repleta de blocos de concreto, de diversos tamanho. É o Memorial das Vitimas do Holocausto, uma tocante homenagem fincada no coração de Berlim.

Poser no muro da vergonha, cicatriz aberta no centro de Berlim

Ali, o ar alemão aspirado por Juttel tinha odores de História. Seguindo pela cicatriz do muro da vergonha, encontramos uma ferida ainda aberta: uma parte do muro preservada por motivos históricos e turísticos. Dava para sentir bem o clima de história exalado por aqueles resquícios de muro (com a qual eu voltaria a ter contato, no museu do comunismo, em Praga).

Vândalo, ou ao menos representação de tal. Juttel revive os momentos da queda

Interessante ver os sinais da mudança. Do lado oriental do muro (no sentido geográfico, que o político não existe mais), um imenso cartaz da Coca-Cola, patrocinadora da fanzone, deixa claro qual sistema manda.

Coca-Cola e Berlim Oriental, tudo a ver

Mas mais adiante, em um elevado, foi como voltar ao passado e ver as duas Alemanhas novamente. Ao oriente, aqueles prédios marrons bem característicos do filme “Adeus Lênin”. Ao ocidente, os modernos aço e vidro em construções de design extravagantes. Isso é Berlim.


Racha: os predinhos de "Adeus Lênin" e a Berlim moderna

Chuva de purpurina


Então recebi um jornalzinho de um cara. Agradeci com a cabeça e, antes de me virar, percebi que o rapaz piscava pra mim. Abri o jornal, foi como se uma chuva de purpurina caísse sobre a cidade tirando aquele ar sério e histórico e tingindo Berlim de cor-de-rosa. Ou com todas as cores do arco-íris, para ser mais exato. Estávamos em pleno “Christopher Street Day”.

Sem comentários

O dia do Orgulho Gay é comemorado em toda Europa, embora com nomes distintos em outros paises. É uma grande passeata em defesa do direito de minorias, como os homossexuais, bissexuais, transexuais, etc. A Berlim histórica que queríamos conhecer se vestiu com as cores da diversidade sexual e com mensagens de tolerância e respeito. Foi engraçado e divertido.

Nem o médico Hermann von Helmholtz (1821-1894) foi poupado

Pelo centro histórico já não sabíamos mais o que era o que. Nossa seta não tinha mais razão de ser, pois quem ditava o ritmo do passeio eram as dezenas de homens marombados em trajes sumários, ou drags queens gigantes pintadas de cima a baixo, rapazes ora de seios postiços ora de bunda à mostra e outros com sungas de couro e coleira. O Juttel corria a se explicar: “Não foi nada combinado. Estamos aqui por acaso”. De fato não foi, mas conhecer Berlim sob o viés de sua gente cor-de-rosa foi bastante interessante.

Como assim? Isso é Berlim? Juttel e eu perdidos

Sprint final

Daquele momento de sodomia caminhamos conhecer uma das igrejas mais fantásticas de toda a viagem, a Berliner Dom, ou Catedral de Berlim. Bela e grandiosa, sua primeira construção data do início do século passado. Fica pertinho da prefeitura de Berlim e de um jardim, o Lustgarten. Atrás, no mesmo enquadramento da foto, reprisando o histórico e o moderno, a torre da TV.

Uma das mais belas catedrais e a torre da tv

Imponente por fora e por dentro, paramos para descansar e apreciar a catedral. Assim como todas as grandes igrejas há, embaixo, as catacumbas com caixões e esquifes onde jazem os corpos de religiosos. E, subindo um sem-número de degraus, pudemos apreciar a vista lá de cima e ver a maquete. Encantadora.

Assim, nem parece tão grandiosa

A visita já estava ganhando ares de despedidas. Na ilha dos museus, conhecemos o Pergamo Museu e o Bode Museu, mas só por fora. Também sobrou um tempinho para tomar a cerveja local, meio litro de Berliner, e ainda começar a se coçar para arrumar um jeito de chegar à próxima parada.

Parada para descansar, apreciar e refletir

Foi assim por acaso que conseguimos encontrar a passagem, pelo celular de uma berlinense que trabalhava num show de teatro, que estava sentada diante do computador. Meio às pressas, na loucura.

Em Berlim a pedida é meio óbvia: Berliner. Bem boa

Foi também por acaso que nós, na correria de chegar à rodoviária, pensamos em conhecer um último ponto turístico: a estonteante Coluna da Vitória (Siegessäule). Mais por acaso ainda foi ver o final do “Christopher Day” por lá. Outro cartão postal de Berlim tingido de cor-de-rosa, mas não tínhamos tempo para mais nada.

Fusão de dois museus na ilha. Não deu tempo para entrar, Berlim estava quase no fim

Só para pegar um táxi e voar para a rodoviária, bem distante dali. No caminho, mundo pequeno, vimos o casal sueco passeando, calmos como são os suecos, com seus uniformes esportivos. Mas, foco. O táxi cortou as ruas de Berlim, nossa seta agora era precisa e acelerada.

Última parada, a Coluna da Vitória, quase nos fez perder o ônibus

Quase perdemos o ônibus, mas foi por pouco. Embarcamos para uma curta viagem por solo alemão rumo à próxima parada.

E você, segue viagem conosco?

sábado, 27 de setembro de 2008

Dentro da boneca russa

A matrioshka é aquela bonequinha tradicional da Rússia, um brinquedo formado por uma série de bonecas de madeira de tamanhos diferentes – a menor colocada dentro da maior e assim por diante (na ex-soviética Praga existem milhares delas). Pois foi como estar dentro de uma matrioshka o sentimento da viagem de Malmö a Berlim.

Fim do congresso, nos despedimos do grupo: a sociedade do anel estava desfeita. Flávia e Davi ficariam mais um dia em Malmö e depois conheceriam Praga, Enio esticaria alguns dias em Copenhague e terminaria a viagem em Amsterdam. Mas o Juttel e eu estávamos com pressa, nossa programação era mais puxada.

Juttel e eu para mais uma viagem. Deu de Suécia pra nós

Fomos para a estação de trem de Malmö pela último vez, o Juttel com seu eterno toc-toc do arrastar de mala, e eu fazendo conjunto com ele e feliz da vida por ter minha bagagem de volta. Pegamos o trem e vimos a pequena Malmö ficar para trás.

Foi minha primeira vez em um trem com cabines e camas. Tivemos a sorte de pegar as camas do meio e nos demos bem com um casal de silenciosos e bem comportados (sério?) suecos. Obviamente não ficamos parados, enfiamos a cara pela janela, vimos um velho alemão que dava medo e conhecemos uns adolescentes noruegueses de passeio no país vizinho.

Nórdicos: a prestrativa sueca e um dos camaradas noruegueses. Gente boa

Pelo lado de fora da janela, a Suécia ia correndo em sentido contrário ao do trem. Passamos por áreas mais pobres – sim elas existem – com casinhas conjugadas e micro-quintais, plantações e outras paisagens. A noite ia caindo, talvez reflexo de nossa descida em direção ao latitudes menores. Mas então o trem parou.

De cara não entendi bem aquela gente loira e nórdica tentando me explicar. Como assim? “Train on boat?” Foi o Juttel que contou. “Um pouco para direito chefia, isso, agora externa tudo”, diria um manobrista. E o trem, na boca do litoral, estava fazendo manobras para entrar dentro de um navio!

Trem e navio. O primeiro dentro do segundo!

Já peguei balsas estando dentro de carros, mas trem dentro de navio, confesso, primeira vez. Lembro que sentia o chacoalhar nauseante da embarcação, enquanto deitado escrevia algumas linhas na agenda: “Mar do Norte. Penso que seja esse o nome do lugar onde estou agora, em alguma parte do Oceano Atlântico. Estranho dizer, mas estou em um trem!”

Freeshop no navio. Como se estivéssemos em um aeroporto. Território internacional

A viagem foi doida, de fato. Saímos do trem e pegamos um elevador para o alto do navio. Quando saímos pela porta, bizarro: pessoas esparramadas por aqui e ali, gente em restaurante, uma mulher no caça-níqueis com o filho, um freeshop.

Mãe e filho no caça-níqueis

Subimos mais um pouco e estávamos do lado de fora do navio. Vento cortante trazendo a brisa do Atlântico Norte (“É como se mil facas entrassem em seu corpo”, diria Leonardo Di Carpio sobre a temperatura da água naquela latitude do oceano, em um filme conhecido). A vista? Belíssima. De longe víamos o pôr-do-sol lá na Escandinávia – na terra do sol da meia noite, nada mais apropriado que o sol se demorasse um pouquinho mais.

Do alto do navio, o fim de tarde na Escandinávia. Adeus à terra do sol da meia noite

Voltamos para o navio, andamos aqui e ali e eu preferi voltar ao trem. Estava preocupado com o macbook e bastante cansado. Tomei uma daquelas águas minerais em caixinha. “Não pode tomar água da torneira”, tinha avisado a prestativa sueca ao Juttel. “Ela deve pensar que eu sou bobo”, reclamou ele pra mim, minutos depois.

Passando frio do lado de fora do navio e, para o Juttel, dentro do trem

O Luiz disse ter sofrido com um vento nos fundilhos, mas eu dormi como anjo. Nem vi quando o trem deixou de ser bagagem e andou com as próprias pernas, em trilhos alemães. Também não percebi quando chegamos à grandiosa Berlin Hauptbanhof.

Tema, claro, para outro post.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Bem me quer, em Malmö

Foi com sentimento de dever cumprido que nos despedimos de Malmö no dia 27. Uma tarde ainda ensolarada apesar do tardar da hora, fomos caminhar pelo centro daquela pequena cidade. Passeamos por um feira e sentamos uma última vez em um bar para tomarmos a cerveja local. Aquele tinha sido um dia muito bom. Tinha sido o nosso dia em Malmö.

Despedida da bela Malmö, mas antes, nosso dia na cidade.

Na noite anterior, Davi, Flávia, Juttel e eu nos reunimos no hall de entrada do hotel Íbis. Precisávamos afinar o discurso, preparar os slides e deixar tudo acertado para o nosso porta-voz Davi: dia 27 era o último e também o dia mais importante. Dia de apresentarmos o “Bem me quer, mal me quer” na Suécia.

E não fizemos feio. Na verdade o Davi não fez. Apresentou uma a uma as cinco peças que compõem a instalação. “Bem me quer, mal me quer”, uma expressão bonitinha que venho falando há tempos. Mas o que significa?

Em Malmö, Davi foi o porta-voz do "Bem me quer"

Em síntese, foi uma instalação artística que fizemos no Museu da Imagem e do Som, em Campinas. Fruto de uma disciplina do Labjor, a Oficina de Multimeios, a instalação usa a ferramenta artística para refletir sobre a divulgação científica. O que pensam as pessoas sobre a ciência, especialmente, sobre as biotecnologias? Como a mídia divulga ciência? De que maneira aparece a dicotomia (bem e mal) nas notícias sobre biotecnologia.

Sem Hércules, mas reunida. Dever cumprido na Suécia

Para entender direitinho sobre a instalação, os mais interessados podem dar uma espiada nesse vídeo no Youtube. É um compilado de matérias e vídeos.

Na apresentação, em Malmö, Davi foi direto. Expôs os nossos conceitos e objetivos, e soube resumir o que significou para nós fazer o "Bem me quer". Resumiu. Na platéia, nossas amigas italianas, a colega turca de belos olhos e um representante do Ministério de Ciência e Tecnologia, Ildeo de Castro, que ficou muito interessado no tema. Nosso trabalho estava feito.

Auto retrato. Galerinha fazendo pose na universidade

As horas a mais em Malmö, na Suécia e na Escandinávia já estavam no lucro. Sentimos aquele climazinho de adeus, ou até à Índia, em 2010. Demos uma última passeada pela Universidade de Malmö e nos despedimos, ora com a cabeça, ora com abraços calorosos aquelas pessoas de quem tínhamos ficado amigos ou apenas conhecidos.

Chuvinha atrapalhou nossa visita à cidade sustentável, um bairro de Malmö

Apos uma breve chuva, que interrompeu nosso passeio pela cidade sustentável, fomos para o centro de Malmö. Desencontrei-me do pessoal, mas depois de feirinha e praças, nos encontramos novamente. De novo na mesa de bar, a última da Suécia, a última da equipe do "Bem-me-quer". E de novo cerveja.

Passeio final por Malmö. Agumas cenas

No bar, dinheiro na mão, paguei a quem devia. Entreguei minha última coroa sueca. O Luiz ficou me incomodando, sobre migalhas para pagar o táxi e eu me desesperei: “Eu não tenho mais coroas, Luiz. Eu não estou mais Suécia! Não estou mais na Suécia!” O pessoal riu muito.

No adeus a Malmö, último encontro na mesa de bar

Caminhamos para o fim. Demos adeus ao Ênio e acompanhamos Flávia e Davi para o hotel. Eram nossos minutos finais em Malmö, mas tinha tempo para um último encontro. Aliás, reencontro.

O emocionante e duradouro reencontro com a minha bagagem.

Ninguém tasca: depois de longos dias, o reencontro com minha bagagem

A continuação dessa viagem, agora cheirosinho e de roupa limpa, você acompanha no próximo post. Até lá.

domingo, 3 de agosto de 2008

Sabores da Europa

Certa vez, uns amigos criamos o conceito de “ruim”. Era uma bebida feita à base de Velho Barreiro, limão murcho cortado com faca suja de maionese e açúcar (ou seja, uma tentativa frustrada de fazer uma caipirinha). Mas o troço ficou tão ruim que a gente tomava toda hora só para se certificar do quão ruim era. Sei que as relações de meus amigos com o “ruim” beiram o masoquismo, mas, particularmente, eu sempre fui da idéia de experimentar o diferente, comer coisas estranhas e exóticas. No mínimo para criar anticorpos.

Foi com essa idéia que eu comprei um chiclete sabor bacon, em uma lojinha perto do metrô, em Estocolmo. O troço não era ruim, era pavoroso. Já vi alguns marcas arriscarem o sabor salgado em seus chicletes, mas aquele de bacon era levar essa ousadia à quintessência. Obviamente que, após uma ou duas mastigadas, cuspi o chiclete em um lixeiro e prometi nunca mais provar daquilo. Promessa não cumprida, diga-se.


Enio afia os garfos: na Europa, comidas boas e algumas surpresas desagradaveis

Bem, comer coisas diferentes foi parte da programação desta viagem. Não digo que fizemos um tour gastronômico pelos países, mas vez ou outra provávamos dos sabores locais. Em Viena, por exemplo, foram muitos os apfel-alguma-coisa que comi. Gostava muito daqueles croissants e outros pães doces, me empanturrei quando pude. Em Praga, no entanto, o croissant era apenas uma massa amorfa, mas muito fotogênica.


Na breve passagem por Berlim, também ficamos na base de pãezinhos e cafés expressos. Quando chegamos à Viena, o Juttel, fresco de dá dó, queria comer comida de verdade. Batemos um pratão de macarronada em um restaurante italiano, onde o chefe veio nos atender em italiano – mas aí eu estendi a conversa no idioma e o cara não entendeu mais nada.

Em Berlim, com mais um pãozinho diferente

Outra vez fui eu que não entendi, ainda em Viena e ainda em relação aos pãezinhos, quando um tiozinho tentou nos ensinar o que era apfel-não-sei-o-que. Não adiantou muito, mas eu comi assim mesmo. Isso ocorreu lá no Terminal de Westbanhof, nossa casa em Viena. No mesmo lugar, último dia na cidade, o Juttel comprou um suco de laranja péssimo. Quase tão ruim quanto o chicelete de bacon, mas ainda longe do “ruim”.

Por falar em comer sem saber, este é o retrato de minha primeira refeição quando cheguei na assustadora Budapeste. Sabe como é, ex-comunista, língua bárbara, e eu comprando um lanche à base de peixe (que comi acompanhado de uma coca-cola, por 99 forintes). Ainda não descobri do que era feito aquilo.

Coca cola a 99 forintes e lanche estranho. Do que mesmo?

Lá em Budapeste o interessante foi a andança do primeiro dia. Sol nas costas, canseira e frutas pelo caminho. Quando passei por uma praça, vi uma árvore com umas frutinhas vermelhas e, mais a frente, outra com frutinhas amarelas. Parecia uma espécie de ameixa-pêssego-nectarina. Bem boa!

Frutinhas coloridas. Não, elas não fazem mal

Neste mesmo dia, faminto, comi um bom e salgadíssimo Burguer King. O mesmo fizemos em Amsterdam no início da viagem. O Juttel e eu procurávamos a comida local, uma espécie de batata com um molho nojento em cima. Trocamos pelo Rei dos Lanches.

O que me faz lembrar daquele pedação de pizza em Viena e aquele outro na estação de metrô em Budapeste, no dia do martírio. E também o cachorro-quente com aquela salsicha gigante na andança por Berlim e outro cachorro-quente esquisito, em Praga: a mulher furava o pão com um metal quente e depois largava a salsicha dentro, junto de um molho de mostarda escura e amarga. Pinguei um pouco no All Star e trouxe aquele cheiro forte para o Brasil.

Para fugir da regra, salmão. Entrada do ótimo almoço de Lund

‘Xá ver o que mais (esperem que vou ali tomar um café). Isso, café. Sou louco por, mas não fui muito feliz nas experiências. Em Estocolmo, no almoço da pré-conferência, tomei um café e disse para um cara ao lado que, como brasileiro, eu não só gostava de café, eu precisava de café. O cara, português, disse que estava na mesma situação.

Começo de viagem, ainda no Brasil. Como gosto de café

Em Praga, comi um pão com ovos delicioso na manhã do primeiro dia e tomei café; estava assim assim. Em Berlim, mordidas nos apfel-tanto-faz e tragada em um café expresso forte. Lembro que neste dia jogava migalhas para uns passarinhos mordiscarem. E o Juttel ali, com aquela cara de tacho.

Isso sem falar no regime de engorda do vôo internacional.

Comida chique na recepção na prefeitura de Estocolmo

Comentei ali em cima sobre o almoço na pré-conferência, acho que vale falar sobre comida decente para terminar esse post. Toda a programação na Suécia era regada por comida da boa. O almoço na prefeitura de Estocolmo foi super-chique e a alimentação na conferência em Malmö, Lund e Copenhague, bem agradável. Mas um sabor que gostaria de voltar a sentir é o de um doce tradicional da Suécia – o vacuum cleaner, um rolinho verde e marrom feito sabe-se-lá do que. Mas muito bom.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Ponte para Copenhague

Tão rápido quanto as hélices dos moinhos que superlotam o estreito de Øresund foi nossa passagem por Copenhague. Nosso objetivo na capital dinamarquesa era participar de um challenge, uma espécie de desafio científico com propostas de comunicação sobre as mudanças climáticas para diferentes públicos. Muito interessante. Separados em grupo, gente das mais variadas nacionalidades unindo cabeças em torno de um objetivo comum.

Moinhos de vento tomam a vista no Canal do Øresund

Saímos de Malmö após a programação da manhã e eu, que estava escalado em um dos primeiros ônibus, acabei perdendo meu transporte. “Só você mesmo”, debochou o Juttel. Problema dele, teve que me agüentar no mesmo ônibus. Ele e a Rossella, nossa amiga cinegrafista da Universidade de Turin.

Organização para saída e... qual é o meu ônibus?

Atravessamos os quase oito quilômetros da ponte do Øresund que liga as portuárias Malmö e Copenhague. A ponte é o símbolo da conferência "Bridges to the future" e representa a união dos povos suecos e dinamarqueses. Maior ponte rodoferroviária da Europa, ela passa sobre o estreito de Øresund (nome dinamarquês, em sueco é Öresund) que liga o Mar Báltico a outro estreito, o de Kattegart, ao norte, em direção ao Mar do Norte.

Ponte do Øresund ligando Suécia e Dinamarca

A vista, lógico, é belíssima. Ao fundo dezenas de moinhos de ventos aproveitam a brisa local. No final, a ponte se transforma em um inusitado túnel que nos leva até Copenhague.

Foi possível ver um pouco da arquitetura de Copenhague, bela como a das outras cidades européias, mas ainda assim peculiar. Tijolinho à vista em muitos prédios; me disseram que ela tem a arquitetura semelhante à da Irlanda e da Inglaterra. Na viagem de volta, entretanto, um britânico afirmou que Londres é muito mais bonita.

Copenhague: arquitetura européia, mas com peculiaridades

Desembarcamos no Copenhagen Bussines School onde ocorreu o Challenge. Fomos recebidos por autoridades, dentre elas a ministra de Clima e Energia da Dinamarca, Connie Hedegaar. Discursos iniciais, apresentações, mas vamos pôr a mão na massa. Cada um encontrou o seu grupo e fomos discutir comunicação científica.

O meu time tratou sobre a mídia alternativa. Uma belga, um alemão, uma japonesa, uma sueca e um brasileiro procurando modos alternativos de se divulgar a preocupante questão das mudanças climáticas. Foi muito proveitoso, todos se respeitando e aprendendo sobre como a ciência é divulgada em cada país. Sugeri que fizéssemos uma sugestão local, regional e global. Mas foi o alemão, eficiência teutônica, que deu o primeiro pitaco para encerrarmos o trabalho.

Welcome to Challenge: grupos com propostas de comunicação

Apresentamos algumas das sugestões na assembléia e discutimos. Foi bastante proveitoso e intensamente enriquecedor. Saímos de lá com a certeza de que há uma comunidade de divulgadores da ciência em muitos países e que o tema é encarado com seriedade em outras partes do globo.

Why Copenhague?

No Museu Nacional de Copenhague, além da comilança, teve um interessante teatro em que fazíamos o julgamento de dois cientistas. Quem dizia a verdade? Muito legal, embora o Mr. Pal Asija tenha chamado a atenção novamente ao interromper a encenação e sentar-se nas escadas. Conhecemos o museu, as coleções histórica, etnográfica, cultural. Completo. Fim da viagem, ônibus pronto para sair e nós naquela dúvida. Acabamos deixando o transporte ir sem nós. Ficaríamos em Copenhague, só não sabíamos onde.

Tentativa de teatro e Mr. Inconveniência em ação

Mais uma vez nosso pouso foi resolvido por um acaso. Andamos pelo centro da cidade com as italianas Rossella e Frederica. Vinha batendo papo em italiano com a Rossella, desistindo de treinar o inglês, mas me dando muito bem na língua latina. O Enio e o Juttel treinavam a Frederica – ela falava a todo instante: “Eu posso falar português. Eu moro em São Paulo, no Bexiga”. Mas sempre errava o nome do tradicional "bairro" paulistano, tomado por imigrantes italianos.

Conhecemos uma praça, umas construções históricas, alguns canais, sem saber bem o que é o que. Mas precisávamos de um lugar para ficar e foi a Frederica que resolveu: ficamos em um quarto ao lado do dela, em um predinho perto do centro. A Rossella dormiu com Frederica; o Juttel e eu dormimos no outro quarto.

Frederica e Juttel, viagem de volta. Prontos para um dia importante?

Outro dia cedinho, nós sem coroas dinamarquesas no bolso emprestamos algumas moedas das meninas e, os quatro, pegamos o trem para cruzar novamente o Øresund em direção à Suécia. Era dia 27, dia importante. O nosso dia na conferência!