terça-feira, 19 de maio de 2015

Dia 9 - Outras viagens virão

Nossa última caminhada começava mais cedo naquele dia 31. Para chegarmos juntos a Paraitepui, Léo saiu uma hora antes do resto do grupo e foi acompanhada por Jane. Mas mesmo para todo mundo, ainda era escuro quando deixamos as barracas.


Último café da manhã em nossos pratinhos alaranjados

O outro grupo que sempre cruzava conosco nos hotéis estava por lá também. Acostumados a dormir tarde, eles devem ter estranhado aquela movimentação loco cedo. Tomamos nosso tradicional café, com o gostoso domplin e seguimos viagem.

Caminhei o tempo todo ao lado de Andri, puxando a fila da infantaria. Um pouco atrás, Borracha seguia com Carlaile, Marcelo, Madie. Luciana, que tinha saído depois, vinha no encalço. Cruzamos cedo por Léo e Antonia e, pouco depois, passamos pela ligeira Jane, logo que atravessamos aquele riacho de nossa primeira parada.


Caminhada vagarosa, sem pressa. Mas que passou voando

Roraima se envergonhava atrás de nuvens e o caminho era cinza. A savana mostrava aquele capim seco e feio que os índios Pémons teimam em queimar para ver a vida florescer novamente. Se a água ditava o ciclo da vida no alto dos tepuis, ali na savana o fogo é quem mandava.

Na companhia de Andri, ouvi o Fantasma do Monte Roraima falar

Não era hora para filosofias. Ouvi Andri contar sobre sua vida e a dificuldade de viver metade do ano longe da esposa e filhos. Deu-me dicas de lugares para visitar na Espanha e os melhores vinhos da região. Era sempre uma aula conversar com o Fantasma do Monte Roraima. Eu procurava prestar bastante atenção e aprender com ele.


O papo estava tão bom que nem sentimos a pernada e logo estávamos naquele mirante. Ali onde tudo começou. Quando a infantaria se reuniu pela primeira vez e eu lamentei ter escolhido carregar a própria mochila. Achava que não conseguiria. Estava errado. E ali, junto a Borracha, a infantaria se reunia mais uma vez.


A infantaria "estendida", com a presença de Marcelo e Madi no grupo dos seis da frente

Tendo Paraitepui à vista, achei que estava perto. Encontrei a fatídica subida, agora descida, do começo da viagem. Era realmente ingrime, tanto que resolvi descê-la correndo numa pernada só, "como cavalo voltando para o estábulo", brincou Andri.


Crianças Pemóns em Paraitepui. A expedição chegara ao fim

Suando, cruzei pelas primeira crianças indígenas e vi uma mulher que lavava roupa me acenar para onde continuar. Depois de 2h30, cheguei ao ponto de partida. Agora ponto de chegada. O bom e velho Andri veio logo depois, seguido por Carlaile, Luciana e Madie. Marcelo apareceu junto com Borracha. O resto da turma chegaria na sequência.

Cães na comunidade Paraitepui

Despedidas

O pastel de queijo com Frescolita era um ensaio da despedida. Cada um pagou e agradeceu seu carregador pelos dias de viagem e nós seguimos de 4x4 até a comunidade de San Francisco para almoçar frango e comprar artesanatos.


Almoço de verdade, com galeto, arroz, feijão...

Sobraram muitos bolívares nos bolsos e os expedicionários deram fins diferente às suas notas. Poucos passaram pelo câmbio novamente. Quando nos despedimos dos guias Tensing e Antonia e dos carregadores Gabriel, Manoel e Roger, já em Santa Elena, sabíamos que aquele era o princípio do fim.


Mulheres maquiadas, homens de barba feita. Os expedicionários tinham ficado para trás

O fim mesmo foi a noite, no Bar Chão de Brasa, em Boa Vista. Combinamos ainda no alto do Monte Roraima que nos encontraríamos num bar para para tomar cerveja e comer carne de verdade. Foi estranho ver o pessoal arrumado, os homens de barba feita e as mulheres de maquiagem. Os verdadeiros expedicionários tinham ficado para trás, em Paraitepui, antes de subirem nos 4x4.


E foi chorando pelas ruas de Boa Vista que terminei minha noite após me despedir de meus amigos. Antecipei a ida pra casa para não alongar a despedida. Abracei e beijei cada um com os olhos marejados. Difícil dar adeus a gente da família. Em viagens longas, a gente cria relações muito fortes com estranhos. Assim, desconhecidos viram irmãos. E o fim de uma viagem encerra uma convivência que nasce com data de validade definida.

Outras viagens virão. Tarén!

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