quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Dia 22: no duelo das catedrais, Monreal vence Palermo

Tô escrevendo este email dentro do trem para Cefalu. Escrevo para depois mandar para vocês. E sinto dizer, querido papai, amada mamma, mas vocês estão sendo usados. Escrevo este diário para depois me organizar e ficar mais fácil fazer os posts para o blog. Uahahahahahaha, como sou mau. Brincadeira, gosto de tê-los como meus dois leitores virtuais especiais. E falemos da viagem.

Vigésimo segundo dia na Itália (08/03). Vocês bem lembram da correria que foi chegar ao porto para pegar o navio. Um saco, mas esta é a história de minha vida. Correr para não perder trem/barco/ônibus/avião. Fazer o que? Irritava-me a lentidão dos metrôs e funiculares, mas cheguei em tempo, e tive que esperar para o navio sair.

No primeiro dia em Palermo, um pulo em Monrreale para ver a cidade de cima

Isso tudo está lá no final do 21º dia, mas vale lembrar. O navio é mó metido a besta, mas não tem lugar para o pessoal "ponte", isso é, que comprou o bilhete mais barato. Tem que ficar por ali no bar ouvindo músicas bregas e alguns temas brasileiros cantados em italiano. Comprei uma água, uma Nastro Azzurra (cerveja local) e fiquei matando tempo. Deixei minha bagagem na área das poltronas. Bati perna pelo navio, fui lá em cima ver o mar e ver Napoli ficar para trás, sempre sob a sombra onipresente e assustadora do vulcão Vesúvio. E fui dormir.

Ainda no navio, uma Nastro Azzurra no bar. Nada de glamour para os o pessoal "ponte"

Ao menos tentar, o cara do bar não parava de cantar e fazia bastante frio. Coloquei as duas jaquetas, tirei da mala mais um par de meias, enrolei nas pernas a bandeira do Brasil, botei a toca. Tirei da mochila uma almofadinha que comprei para a Isa, lá em Verona ainda, e dormi sobre ela. Estava até confortável.



O navio chegou cedinho a Palermo, seis e pouquinho, e, aí sim começamos nosso 22º dia. Tivemos que esperar os carros e caminhões saírem antes de sairmos (um adendo, agora enquanto escrevo estas linhas, aqui no trem, vejo paisagens fantásticas pela janela, a costa siciliana é linda). É estranho, a gente se engalfinhar entre caminhões até chegar ao elevador. Mas tudo bem.

Poser na frente do porto. Dica: coloque a máquina no banco para tirar foto de você mesmo

Deu a hora, saí com as malas pesadas. O esquema de sempre, coloca a mochila número um em uma poltrona (ou em qualquer lugar mais elevado), veste ela, passando as alças pelos braços, e levanta com as pernas. Sem esta técnica fica impossível e posso deslocar um ombro (exagerado?). Depois coloca a mochila 2 na frente, cuidando para o ajuste da alça ficar sobre a alça da mochila 1 e, nas mãos, a sacolinha, que me acompanha desde Veneza. Pronto para mais uma aventura? Então vamos lá.

Pela manhã, o centro de Palermo. Até aqui tem estes carrinhos minúsculos

Foi relativamente fácil achar um lugar para deixar a bagagem, no porto. Relativamente, porque fui até um cilo, ouvi um cara grosso até achar a estação marítima. Ok, fui atrás de um mapa. Com um mapa em mãos, sou semi-deus, faço o que eu quero em qualquer cidade do mundo. Caminhei pela via principal, o posto turístico estava fechado, então fiquei matando um tempo com uma pizzeta, un latte macchiato e lendo o jornal local: Palermo havia vencido a fraca equipe de Livorno por 1 a 0. Peguei o mapa, botei no bolso traseiro-direito da calça e fui bater perna. Andei por aqui, ali e lá também.

Redonda, a Chiesa del Santissimo Salvatore parece um teatro. Lá, encontrei uma alemã

Fiz boas fotos do mar, encontrei i quatri canti, um cruzamento de duas avenidas onde os quatro cantos são ornados por fontes (é uma cópia de outro que tem em Roma). Cheguei à belíssima Chiesa del Santissimo Salvatore, redonda como um teatro. Lá, conheci Eli.

A bela Catedral: bonita por fora, fria por dentro

Eli é alemã, estava batendo perna pela cidade. Divertida e engraçada a loira menina, foi um dia para conversar só em inglês. Fomos até a Cattedrale, linda por fora, simples e fria por dentro, e com influências árabes e normandas. Originalmente, a catedral era uma igreja bizantina até que, em 1185, o arcebispo de Palermo reformou a construção para competir com a beleza da catedral de Monreale (acho que ele saiu perdendo). Chegamos a uma outra praça, após visitarmos um castelo, e pegamos o ônibus para Monreale, uma cidade pequena, que fica sobre a montanha, perto de Palermo.

Alemães viajam de mais. Eli é uma prova disso. Parceira para um dia de passeio

Legal andar com Eli, ela é recém-formada em engenharia, assim com o seu namorado - sim, ela tem namorado (sem problemas, ela não fazia meu tipo, hehehe). Gente boníssima. Como eu, ela viaja sozinha. Não é comum uma ragazza viajando sozinho, Berlim-Palermo-Berlim. Há louco pra tudo.

Palermo vista de cima

Chegamos a Monreale, a igreja estava fechada. Hora da siesta, o sagrado descanso típico do sul da Itália. Demos um giro pelo chiostro, ou claustro, um lugar usado para clausura dos religiosos em suas meditações, que fica anexo à igreja. A Eli não pagou porque, oito de março, Dia da Mulher (como no resto do mundo, inclusive no Brasil). Legal o chiostro, também com influência normanda e árabe, cheio de colunas lindíssimas, com mosaicos pequeníssimos, arcos. Show.

Colocado depois: O Duomo di Monreale foi construído em 1174, por ordens do rei Guilherme II da Sicília. Ele é dedicada à Santa Maria Nuova. Diz a lenda que Guilherme adormeceu em um campo, sob uma árvore, e sonhou com a Virgem Maria. Ela lhe disse que ali estava escondido um grande tesouro que deveria ser usado para construir um templo em homenagem da santa. O local foi escavado e foi encontrado um tesouro em moedas de ouro, empregadas na construção do templo.

O belissimo chiostro da Cattedrale di Santa Maria Nuova. Influências normandas e árabes

Saímos do chiostro. Ainda tínhamos algum tempo antes da chiesa abrir para visitação. Um giro aqui, outro ali, fomos dar uma vista em Palermo por cima, bela paisagem. E manggiamos una pasta com vinho, indicação de um cara na rua. Eu, 4 formaggi e ela, alla capriciosa. Muito boa pasta. Paramos para comer doces sicilianos como a cassata, canolo e biscoito de mandorla. Simpática a mulher que nos ensinou o nome dos doces. Ela ficou tentando saber de onde eu sou, não matava pelo sotaque. E isso é bom.

Na panificadora com minha amiga, algumas cassatas e outros canolos

E fomos para igreja. Linda, diferente das outras. Dividida em três naves, toda cheia de mosaicos, o Cristo, posto em destaque em uma parede côncava, tinha os olhos que parecia nos seguir. Ficamos um pouco tempo lá, a historia de Adão e Eva, de Moisés, e outras passagens bíblicas contadas em mosaicos nas paredes da igreja. Fomos embora. De novo correria. Precisava pegar minha bagagem no porto, ia fechar em poucos minutos e eu dificilmente chegaria em tempo. Malditos ônibus, maldito trânsito. Preciso ir morar com o pai em uma chácara e ficar um ano sem ver carro. O que acha pai? Saí do ônibus e corri, quase perdi o ar e cheguei ao porto em cima do horário. Tinha me despedido de Eli, boa companhia de um dia.


O Cristo Pantocrator na capela-mor do Duomo de Monreale e os detalhes de mosaicos na igreja

O cara do lugar das bagagens ainda estava lá, tranquilo. O Cosme, gente boa. Sentei e fiquei batendo um papo com ele, tomando fôlego. E, pasmem, ele me deu uma carona ate a casa de Felippo. Era longe, ia ser um transtorno chegar.

Filippo e Bruninho, ainda menino de colo. Linda família que me acolheu em Palermo

Filippo é ótimo, viajou o mundo todo. Ele e sua família - esposa, filha e o pequeno Bruninho, de quatro meses. Uma gracinha. Eles me receberam muito bem, jantamos um tortelline com funghi e depois couve-flor com azeite. Delicioso. E organizei minha viagem, finalmente comprei as passagens para Atenas e depois Cairo. Iria fazer uma loucura e passar a noite no aeroporto Fiumicino, em Roma. Resolvi tomar jeito e usar a forma mais fácil. Chego na noite de quinta em Atenas. A viagem está chegando ao fim.

Viagem que vou contando aqui passo-a-passo. Vocês estão sendo usados, lembram? Mas agora preciso desligar o Mac que estamos chegando em Cefalu, um belo lugar perto de Palermo. Olha eu correndo de novo.

Beijo,
Murilo

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Dia 21: Il giorno delle donne

Ciao Mamma. Só pra mamma, perche oggi e il giorno delle donne. Parabéns pelo seu dia, mãe. Estou deitado em uma cama quentinha, em Palermo. Família bonita a do Felippo: esposa, filha e o pequeno Bruno, de quatro meses. Ao meu redor, histórias de viagens pelo mundo todo. O cotovelo dói, hehe. Mas enfim, vamos ao diário.

Último dia em Napoli. Dia de caminhar e dar uma chance para a cidade

Três semanas na Itália (07/03). Quis dar uma chance para Napoli me convencer do que era capaz, naquele domingo, meu último dia na cidade. Era dia de acordar tarde, se demorar na cama, arrumar as coisas devagar. Ficar conversando com o militar Luigi, que dividiu o quarto comigo, sobre os conflitos no Afeganistão. Ajeitei as coisas, deixei as bagagens na portaria e fui dar um giro no centro velho. E Napoli começou mal.

Napoli caótica

Mesmo no domingo, a cidade é caótica. Ô terra para ter carro passando, tentando ser mais rápido, buzinando, indo e vindo, e me irritando a todo momento. Ô terra para ter essas motos vespas irritantes de barulho ensurdecedor e que passam e vem e vão. Sério, desisto. Andei em direção ao centro. Ô terra feia! Fosse o Paraguai, seríamos mais diretos: o Paraguai é caótico e feio. Manja os mototaxis e o lixo na rua? Aqui é igual, mas aqui se diria uma cidade pitoresca. Nada de pitoresca, é feia mesmo.

Varais pela cidade

Andei até uma capela e depois até o Duomo, que estava fechado. E eu irritado com as motos. Pô, é domingo, fiquem em casa! Voltei do centro em direção ao hostel e passei numa tal Napoli Subterrânea. A cidade dava sinais de resistência em sua tentativa de me convencer que era boa. Não peguei o começo da explicação, mas para construir as casas, lá nos tempos romanos, o pessoal precisava de rochas e cavaram da terra. Faziam buracos e iam tirando as rochas. O resultado? Galerias inteiras a mais de quarenta metros de profundidade. Uma delícia, aquela tranquilidade sem o barulho dos carros. Segui uma guia que contou a história do lugar, depois pegamos velas e andamos por entre rochas estreitas onde haviam aquedutos romanos. Na Segunda Guerra, o lugar foi usado para proteção. Muito interessante. Ponto para Napoli.

O passeio Napoli Subterrânea. Recomendo muito.

Aí andei mais um pouco e peguei uma das pouquíssimas pizzarias abertas. Estava com fome. A pizza foi criada em Napoli e é da cidade a fama de ter a pizza mais gostosa do mundo. Não sei isso é verdade, mas a pizza de queijo de búfala estava estupenda. Mais pernadas, de volta ao trânsito, caminhei um bocado e cheguei a Piazza del Plebiscito, belíssima, com dois cavaleiros e dois meio arcos, quase com os braços da Piazza San Pietro, no Vaticano. Passei antes em uma galeria, como a de Roma, e no Panteon da Piazza, mas bonito que o de Roma.

Mais pontos para Napoli.


Centrinho abandonado

Então resolvi correr, pegar um metrô para Salvator Rossa, andar até o hotel e ajeitar minhas coisas. O navio partiria às 20h, eram 17h30, tinha tempo. Mas demorei para sair e o horário começou a preocupar. O metrô demorava chegar, depois tive que sair atrás do tal funiculare, um metro que desce por cordas. Não achei de primeira e, quando achei, o biglietto já não valia mais. Já tava puto. O funiculare lentíssimo e eu puto. Corri para pegar o navio, me demorei para achar e entrei. Tinha dado certo, eu cheguei ao bar do navio e fiquei zanzando. Mas isso conto no próximo e-mail (estou devendo, sobre o dia de hoje em Palermo).

Sgora bateu sono, beijo
Murilo