sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Respiro: em Foz do Iguaçu, vá a Puerto Iguazu

E pela ponte sobre o grande rio eu caminhava chutando pedrinhas. Oi pessoal, como estão? Meio sem noção um respiro no blog parado como está, mas eu precisei fazer. Antes de terminar o especial Europa e preparar o próximo especial, vale uma parada. Coisa rápida. Logo ali em Puerto Iguazu.

Fui pra lá justamente para comprar a passagem para a próxima viagem, que vai alimentar esse blog quando as histórias na Europa acabarem. Mas uma coisa de cada vez, terminando um, falo do outro.

E justo, fui pra Puerto comprar a passagem. No caminho encontrei um alemão, coisa branca, gente boa. Fiquei batendo papo com o moleque que a princípio achei ser da Armênia. Culpa das tentativas de português dele.

Na alfândega brasileira, o gringo precisou carimbar seu passaporte europeu. Eu não precisava descer do ônibus, mas o fiz, só pra ficar fazendo sala pro cara. Foi meu primeiro erro.

Perdemos cerca de 1h e 17 minutos até o outro ônibus chegar. Eu com medo de não conseguir comprar a passagem. Mas deu certo. Passamos pela alfândega argentina, todo mundo desceu para pegar o visto de entrada e eu disse: “não preciso”.

Eis meu segundo erro.

Ir ali e voltar, pra que visto de entrada no país? Bobagem. Seguimos de ônibus até a rodoviária e beleza, consegui comprar a passagem. Fiquei feliz pela ideia de comprar pesos ao invés de comprar a passagem em reais. Economizei uns 40 reais só na diferença de câmbio. Comprei ainda uma blusa, tomei uma Quilmes, matei lanche e alfajor, peguei uma água e bora de volta.

Não tinha mais ônibus, vamos desacotovelar os joelhos e andar. Com a garrafinha de água na mão dei mais um giro. Vi um cara cantando tango e pensei em parar pra tomar uma cerveja. Aí conclui que seria a coisa mais depressiva do mundo sentar, tomar uma cerveja sozinho, ouvindo um cara cantando tango.

Em outro restaurante, dois caras com músicas instrumentais. Muito bons. Mas era hora de andar. Caminhei do centro de Purto Iguazu até a alfândega argentina. Andando cheio de marra com minha garrafinha, enchi de água na alfândega com uns carinhas gente boa. Estava atravessando pro lado de cá quando... Opa!

Fosse brasileiro, o cara fardado perguntaria “O amigão, onde vc pensa que vai?” Achei que era meio óbvio, mas respondi que para o Brasil. Ele perguntou de meu visto de entrada e eu comecei a me fazer de desentendido.

Vocês não têm ideia como eu consigo ser cínico quando quero.

Fui até um gordo gago que disse que eu tinha que ter um papelzinho. Investi na ideia de que não sabia de papelzinho nenhum. E o cara me ofereceu uma multa. De início, recusei.

Já disse uma vez que sou rei em criar dificuldades, um sobrevivente aos obstáculos criados por mim mesmo. Também já escrevi aqui, lá nos idos tempos de viagens para Campinhas, os métodos fáceis de se perder dinheiro. Pois aí vai mais um:

“Faça de tudo para pagar multas, muitas multas”.

Fiquei de cara e resolvi chiar. Mas aí o militar ameaçou encrespar. Deu-me um um empurrão e eu pensei “xiii, argentino, sei não”. E outra, vou viajar no sábado a partir de Puerto Iguazu, tudo o que eu menos preciso é conseguir encrenca com a alfândega.

Tá, eu pago, mas os caras só aceitam em peso e eu tinha deixado as últimas notas naquela blusa invocada. Teve um que sugeriu que eu voltasse ao centro de Puerto Iguazu para trocar o dinheiro se fosse necessário. Só provocação, mas fiz nada disso. Fui até o outro lado e fiquei papeando com uma guardinha gente boa, que me levou a uma lojinha e me apresentou a uma vendedora de cara inocente.

- Você me vende pesos?, perguntei.
- Não posso, só se vc comprar coisas em reais; te dou o troco em peso.
- Tá, então eu te dou quarenta reais e compro um bombom, tudo bem?

Ela me olhou com cara sem-graça.

- Diz aí, quanto tá a SUA cotação?, perguntei, já me preparando para a facada.
- O peso tá 0,80, disse. Em tempo: a cotação no câmbio era de 0,65.
- Tá, então me vende 50 pesos, respondi entregando quarenta reais. Olhei para a guardinha e fiz um sinal de apunhalado, sentindo a lâmina fria girar entre minhas quarta e quinta costelas.
- Você sabe que fez um péssimo negocio né? Olhou e riu-me, a vendedora.
- Sim, eu sei. E saí.

Fui com a nota de 50 pesos pagar o gordo gago. Dei uma de diplomata, não queria ficar sujo com os caras. Mero interesse pessoal. Disse que não sabia da exigência, que só entrei no país pra comprar uma passagem e voltar, que no Paraguai eles não exigem isso.

- É por isso que eles estão daquele jeito, deu de letra um dos caras-alfândega.

Ouvi ao fundo a batida rápida de uma bateria. “Tedish”

Com o papelzinho na mão e 40 reais / 50 pesos a menos no bolso, caminhei para longe dali, atravessei o trecho entre as duas alfândegas, cruzei o Rio Iguaçu já desiludido com as caronas e fiquei chutando pedrinhas.

No caminho pensei em todo o dia pelo qual havia passado. Uma tarde cheia de aporrinhações e o término de dia diferente. Pirei um pouco sobre o que fazer para mudar, mas conclui que não dá. Esta é a minha sina: a de conviver comigo mesmo. Para sempre.

Aí cansei e liguei para o Flávio, amigo do peito e salvador da pátria, me buscar na alfândega do lado brasileiro.

Estava sem dinheiro para o táxi.