terça-feira, 4 de setembro de 2012

DIa 9: Voz de cantor brega

Nono dia na Italia (23/02). De madrugada, acordei tossindo. Tive um pesadelo: sonhara que a mamma tinha me ligado dizendo que a tia Fatima tinha morrido. Chorei um monte no telefone. Depois, a tia Fátima virou a Renata. Era ela que tinha partido. Peguei o celular, era 2h30 (22h30 aí no Brasil) e mandei uma mensagem para a tia Fátima. Graças, ela está bem, embora só me tenha respondido agora, hehehehe.

Então, de manhã, tomei um banho quente. Arrumei minhas coisas e tomei um café e o chá para a garganta. Estou batendo perna meio sem rumo pelo centro. Bologna é universitária. Está cheia de estudantes pela rua. Tem um centro histórico muito bacana, com as duas torres e a Piazza Maggiore. Mas para mim basta. Acho que vou buscar minha água do Rio Pó e partir para Firenze. Tenho muito o que fazer amanhã.

Beijos para vocês. Nao se preocupem que eu estou bem, um pouco de tosse, mas nada demais.

Murilo

...

Mandei dois e-mails, em diferentes horários, sobre o nono dia. Confira o segundo e mais completo:

Ciao de novo

Nono dia na Italia (agora sim). Escrevo esta mensagem na cozinha da casa de meu amigo Vanni, em Firenze. A mãe dele preparou um paio de coisas para nós comermos. Tomei um banho, um chá quente e agora vou dormir. O dia foi de andanças em Bologna e, quando chegamos em Firenze, Vanni, que me recebeu na rodoviária, disse que morava perto. Caminhamos um monte, eu com minhas malas pesadas (por que trouxe tanta coisa?). Va benne, ossos do ofício.

Amanhã, vou conhecer Firenze, a tão aguardada Firenze. Vanni esta me dando algumas dicas boas para o que ver. Vou pegar a água do Rio Arno, já que perdi a do Rio Pó. A cidade tá cheia de lugarzinhos legais, e, claro, Davi, de Michelângelo, e o Nascimento de Venus, de Botticelli. Imperdíveis

Momento constrangimento: eu com voz de cantor brega. E ainda posto aqui no blog...

Hoje, como havia dito, acordei com aquela voz de radialista, em Bologna. Fazia frio. A cidade é suja e as pessoas são apressadas. Todos fumam, falam no telefone e têm cachorro. Pensa num cara falando no celular, fumando e levando o cachorro para passear e, pronto, é este o italiano padrão. Chega a irritar. Apesar do trânsito movimentado, uma coisa interessante aqui é que os motoristas simplesmente param quando você pisa na rua. Não importa se o sinal está aberto ou não. Eles param. Hoje, um ônibus segurou uma fila de carros só para eu passar. Me senti importante.

 De todos os tamanhos, só dá cães nas ruas de Bologna.

Bologna tem lá o seu centrinho. As duas torres, a Igreja de San Petrônio, muito grande e interessante - tem um pêndulo de Foucault, um experimento do físico francês Jean Bernard Léon Foucault para mostrar que a terra gira em torno dela mesma, o movimento de rotação. Dentro de uma igreja! Isso, um experimento científico em uma igreja. Incrível. Aliás, Bologna respira conhecimento. É de lá a primeira universidade do mundo ocidental, datada de 1088. O pessoal ainda estuda lá. Nas ruas têm muitas livrarias e cafés para ler e conversar. Muitas lojas de roupas também para os jovens estudantes da cidade.

Cenas de Bologna: estudantes ao celular, arte na rua e cães.

A Piazza Maggiore tem ainda uma estátua/fonte de Netuno e um monumento dedicado às vítimas do fascismo. Mas eu não estava com muito saco. Caminhei meio sem rumo, com a garganta ferrada. Tomei os chazinhos e protegi bem a garganta com uma echarpe, mas se ela estiver inflamada vou ter que entrar no esquema do antibiótico. Sei porque aconteceu isso: em Venezia, no primeiro dia, a água subiu um monte e tomou algumas ruas. Eles colocam passarelas e protetores das portas quando isso acontece. Soa um alarme e tals. Quando voltei para o hostel, o caminho estava todo cheio da água e fiquei um bom tempo caminhado sob a água gelada. Foi isso.

Ao fundo, estátua de Netuno, na Piazza Maggiore.

Em Bologna, aprendi que devo usar Lei ao invés de tu, é uma regra de formalidade que a gente acaba deixando de lado, mas que esses italianos fazem questão. Pode até não falar per favore, mas precisa do Lei. Acho que é por isso que o pessoal tem sido tão grosso, heehhehe.

Igreja de San Petronio, na Piazza Maggiore.

Bem, depois caminhar um saco de horas e de ter desistido de voltar ao Pó para pegar a água, fui ao hostel e fiquei lá um tempo, esperando dar o tempo. Me encontrei com o Vanni na estação, as nove horas. Ele chegara de Milano (eu o conheci lá, ele é amigo do Tommy, que me hospedou em Milano, lembra?). E agora estamos aqui na casa dele.

A mãe de Vanny é uma graça. Arrumou a minha cama e me ajeitou uma toalha tão grande que dá para secar o pé e a cabeça ao mesmo tempo. "Mas é rosa", disse ela. Eu falei: "e lá tenho problema com a cor da toalha". Aí ela foi para a sala e ficou buscando um canal que fale português. E gritava para Vanny perguntando. E Vanny respondia: "Mamma, Al Jazira é árabe". "Deutsche Welle é tedesco (alemão)". Muito engraçado.

Mas deu, agora vou para a cama, porque amanhã tem muito o que fazer,

Beijão,

Murilo