domingo, 21 de outubro de 2012

Dia 13: 29 anos em Firenze

Oi pappa, oi mamma, tudo bem?

Décimo terceiro dia de Itália (27/02). Dia de meu aniversário. Se passei a entrada nos 28 aninhos em Lima, o primeiro dia de meus 29 começaram em Firenze e terminam em Roma. Um dia com as curvas de Davi, uma viagem de trem muito estranha e amigos romanos me desejando parabéns. Só do Brasil, não veio nada. Ninguém me ligou (fiquei esperando o dia todo o celular tocar...)



Mas bem, a vida segue. Acordei hoje disposto a aproveitar o aniversário. Como só encontraria meu CS de Roma no final do dia, acabei me enrolando para deixar Firenze. E aproveitei isso. Bem, na verdade, os 29 anos começarm um pouquinho antes, em uma festa na faculdade de agrárias da Universidade de Firenze, no meio de um monte de estudantes estranhos. Estes europeus são malucos. A festa estava bem boa, fomos com umas amigas do Vanni, fiquei dando indicações, em italiano, de como não deixar embassar o vidro do carro. Na festa, dancei bastante. Recebi de meu amigo fiorentino o primeiro parabéns da cidade. E a banda tocou a tal "Cacao meraviglao", hehehhe.

Os italianos tiram sarro de nosso "ão". Eles dizem que para imitar os brasileiros basta falar o "ão" no final das frases. Mas eles não conseguem falar “ão” daí sai "ao". Aí, lá na década de 70 ou 80, não lembro, fizeram uma música tirando sarro de como o português brasileiro soa para os italianos. É muito trash e brega, enfim, é de época. Mas engraçada. No youtube, dá para ver aqui. Recomendo.

La mamma `e il piu bel fiore nel giardino della vita

Bem, fomos dormir e acordei bem hoje de manhã. Ajeitei minhas coisas e fui bater perna. Queria fazer um aniversário bacana. Dia de sol, passei por uma loja e vi uma plaquinha que era a cara da mãe. Tirei a foto, depois te mostro [na verdade eu comprei a plaquinha para mãe, mas não falei isso no e-mail, a frase é “La mamma `e il piu bel fiore nel giardino della vita”]. Aí parei para tomar um cappuccino e um croissant de aniversário. E uma tortina para cantar parabéns. Fui até a Piazza de Santa Cruce, solzinho gostoso, cheio de turistas. Fiz ali o ritual do parabéns [o mesmo que fiz em Lima, um ano antes. Veja aqui]. Pronto, já tenho 29 anos. Bora ao que mais importa no dia, as curvas de Davi.



Fui cruzando a cidade deste a Santa Croce até a Galleria dell'Academmia. Já nem preciso de mapa, só olhar para cima buscando o Duomo, seguir em direção a ele, depois em direção ao Palácio dos Medici, me orientando pela igreja de San Lorenzo, viro uma a sinistra (esquerda) e outra a destra (direita). Pronto estou ali.

Última caminhada por Firenze no dia de meu aniversário 

Estava naquela mesma euforia de quando vi O Nascimento de Vênus, de Botticelli. Queria ver logo Davi. Mas fiquei desfrutando a expectativa. Tinha uma mostra de quadros de pintores menores do Trecento e do Quatrocento. Fiquei admirando, analisando, lendo a legenda. Então, uma sala de esculturas, a sala do Colosso. Com quatro obras inacabadas de Michelângelo, que ornariam o túmulo de um papa, não lembro qual. E, de repente, viro o pescoço e lá estava Davi. Tomei um baita susto. A estátua mais importante da história da humanidade, ali, e eu de bobeira.

Analisei um pouco mais as outras esculturas enquanto caminhava em direção ao Davi. Lindíssima, depois dela não é precivo ver qualquer outra escultura. A perfeição das veias na mão, a proporção dos músculos, a forma como ele se apóia sobre a perna direita. O olhar fixo para esquerda, de onde, na lenda grega, vem sempre o ataque. É o momento em que prepara a pedra na funda para atirar em Golias. O pé esquerdo, se prepara para o movimento, ele mudaria o peso do corpo no próximo lance. Na mão direita já tem a pedra escondida, na esquerda, segura a ponta da funda.

Davi, de Michelângelo, a escultura em sua quintessência

Michelângelo trabalhou mais de dois anos para fazer a célebre estátua. O mármore, cedido da Igreja de Santa Maria del Fiore, o Duomo fiorentino, tinha sido recusado por outros escultores, entre eles o mestre Da Vinci. Mas o maior escultor da história não deixou passar e criou sua obra prima. Em Roma, vou ver a Pietá e o Moisés, outras obras dele. Mas depois de Davi, nem precisaria.

Outra caminhada e as estátuas dei Uffici

Aí vi outras estátuas e outros quadros. Almocei um panino com carne de porco e vinho tinto em uma bodega pequena de dono simpático. Dei mais uma volta pela feira da piazza San Lorenzo, conversei com um brasileiro. Estava meio em clima de despedida. Atravesei a cidade novamente, passando mais uma vez pelo Duomo e seguindo em direção ao Rio Arno. A Piazza dei Signoria sempre apinhada, a Piazza dalla República, música ao vivo com uma moça de voz linda. Consegui chegar ao rio e pegar a água [minha coleção]. Tinha uns treinos de canoagem lá, mas eu não tinha tempo.

Corri arrumar minhas coisas. Me despediria de Firenze. Dei um abraço em Donna Rita, que me desejou boa viagem. Vanni me acompanhou até a estação. No trem, um pouco de leitura e dificuldade para dormir. Estava meio dormindo-acordado e as vezes olhava para uns americanos sentados ao lado e, meio sonâmbulo, falava umas coisas nada a ver. Eles riam e eu voltava dormir.

Em uma das paradas quase fiz das minhas. Sou um sobrevivente a mim mesmo, repito sempre. O trem ia demorar para sair, eu corri para comprar uma coisa para comer. Demorei para pagar e quando voltei a porta já estava fechada. Apertei um dispositivo de emergência e abri a porta à força. O trem começou a sair em seguida. Ufa.



Cheguei cansado a Roma. Lorenzo, meu novo CS, ia me receber na estação as 21h40. E lá estava ele, de carro com a namorada. Demos um giro pela cidade e fomos comer uma pizza em um lugar bem disputado. Pizza boa e barata. Fiquei conversando com os dois e mais um casal de amigos. "É seu aniversário", disse Lorenzo me cumprimentando. Brindamos, lembrei-me mais uma vez da data querida, que as vezes a gente exagera (é um dia como outro), mas que é bom ter como dia só nosso.

E foi assim que terminei meu dia, com pizza em Roma. Agora estou sentado no chão da casa de Lorenzo. Muito bacana a casa e o couch (sofá) é enorme - mais confortável que a cama lá do Vanni, hehehe. Amanhã (hoje) é domingo, tenho que saber quando o papa reza a missa para ir assistir. Vou dar uma pernada lá no Vaticano. E conto para vocês.

Beijos, vou dormir.
Murilo

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Dia 12: nella Piazza dei Miracoli, o esplendor de Pisa

Oi paizão, oi mãezinha

Décimo segundo dia na Itália (26/02). Pisa é mais do que uma torre. E sua praça principal, mais ainda. A Piazza dei Miracoli, onde está o Duomo de Pisa, o batistero e, claro, a torre, é linda. Toda verde, como um campo e com as três construções. Cá entre nós, a torre nem é lá a mais interessante.

A Torre e a igreja. O dia seria em Pisa

Hoje fiquei me enrolando para saber o que fazer. Não queria viajar no dia de meu aniversário (odeio a incerteza de uma viagem, gosto de estar na cidade, com minha bagagem em algum lugar que não nas minhas costas), queria, pois, viajar hoje a noite para Roma. Mas aí o dia seria curto. Fiquei me enrolando de manhã, para sair. Dei um pulo até a estação para ver os horários de trens. Vou ou não vou a Pisa. Me enrolei.

A bizantina Santa Maria della Novella, após uma manhã chuvosa

Fui então a uma igreja, a Santa Maria della Novella, uma bizantina, muito bonita por dentro. Fiz boas fotos. Após uma chuvinha chata no início da manhã, fez sol e calor. Ótimo. Fui almoçar com Vanni e uns amigos da faculdade de arquitetura. Almoçar, humm, delícia. Esperava sentar e comer umas saladas, algo saudável. O cardápio foi um lampredotto, uma espécie de buchada de vaca (la ultima parte del intestino della mucca) no pão. Diz o Vanni que é comida comum em Firenze. Ao menos entre os estudantes deve ser, heheeh.

 Pela manhã, chuva em Firenze. E eu me enrolando...

Mas aí deixei de enrolar. Objetivo, fui à estação, comprei o biglietto e bora para Pisa. Uma hora de viagem, tempo para lhes contar como funciona o sistema de trem aqui. É fácil, fácil. Compra o bilhete na máquina, valida (convalidare) e pronto. Só tome cuidado com la linea giala, heheeh. Na estação fica um cara falando os horários dos trens e sempre no final diz: Attencione, allontanarse della linea gialla! (atenção, afastar-se da linha amarela!). Eu rio cá dentro toda hora que ouço e repito o linea giala mentamente.


Na viagem entre Bologna e Firenze, uma explicação breve sobre o sistema de trem

Bem, tem os trens barateiros, os chamados regionais, e os mais caros, da Fressarossa. Amanhã, por exemplo, para ir para Roma, eu posso escolher entre passar quatro horas no regional ou uma hora e meia no Fressarossa. Um custa 15 euros, o outro 45. Já estou esperto para pegar trem. Olho para os horários de partida, vou na máquina, busco meu destino, coloco o dinheiro no buraquinho, pego o troco, "convalido" em outra maquininha (é muito importante), e sigo meu rumo.


Em Pisa, um dos melhores CS da viagem, o grande Isaía que me deu uma aula sobre a cidade

E foi assim que cheguei a Pisa. Tinha escrito para outro CouchSurfing se ele tivesse afim de um café em Pisa. É uma outra modalidade, de CS, vc não hospeda nem fica na casa dos outros, é só coffe or drink, ou seja, sair para fazer alguma coisa. Um CS de Pisa, o Isaía, tinha alguns minutos antes do trem dele, para Bergamo, onde mora a sua família - ele está em Pisa estudando Matemática. Mandei uma mensagem de celular, confirmando o horário, atravessei a cidade de Pisa cruzando o Rio Arno que também passa por ali, e lá estava Isaía me esperando na Piazza dei Miracoli. Passei por ele várias vezes até que liguei para o celular e ele, ali pertinho atendeu.

O majestoso Arno, que também passa por Pisa antes de desaguar no Mar de Ligure

O cara é muito gente boa, me mostrou, por exemplo, alguns detalhes da igreja. Bem, todas as construções são lá de 1000 e alguma coisa e foram feitas em uma área pantanosa. A igreja também tem uma parte que é torta. E ela é interessantíssima, sua construção começou em 1064 com mármore de outras igrejas e construções - você vê nitidamente a diferença do mármore; em algumas partes tem até inscrições da outra construção [ela foi construída sobre outra igreja, de 1006. As obras pararam em 1095 por falta de verba e só foi consagrada em 1118]. Em um desses mármores importados, tem um monte de pontinhos dourados: diz a lenda que é impossível contar duas vezes o número de pontinhos e a pessoa que conseguir fazer isso é levada pelo diabo, hehehehe.

Detalhe do mármore da igreja. Consegue contar os pontos?

Outra história interessante é que a igreja foi construída bem junto ao muro da cidade. De fato está lá, o muro, o portão, e a igreja, no final da cidade. É estranho, porque os duomos (igrejas) são, normalmente, construídos no centro das cidades. Bem, Pisa tinha uma relação difícil com a Igreja Católica e usou seu duomo mais como escudo so ataque do povo de Lucca, uma cidade próspera na época (e também muito linda, pena que não vou conhecer) vizinha a Pisa.

O batistério, a igreja e a torre. Trindade óbvia dei tutti piazzi

Mas então, a torre. De fato ela é inclinada, bem inclinada. Mas já foi mais. Para impedir que ela caísse, fizeram o seguinte: colocaram uma máquina que ia retirando lentamente a terra do pé da igreja, para ela voltar aos poucos e reduzir a inclinação. Ela poderia cair se tivessem deixado a inclinação anterior. Ela é bonita, toda branca. Mas não subi não, pô 15 euros para subir numa torre? Nem, deixa para os turistas chineses. Eu fiquei por lá, caminhando, e rindo do pessoal que fazia aquelas fotos de segurar a torre com o pé ou com as mãos. Eu não.

A igreja majestosa e a torre, na Piazza dei Miracoli

Tá, vá lá. Dei umas voltas e fiz umas fotos bem legais, e, em uma, imitei o Michael Jackson naquele clipe que ele se inclina para a frente, meio para ficar igual a torre. Mas segurar com as mãos? Isso não.

Brincadeira com sombras, aproveitando a iluminação da igreja

Aí tomamos um café, especialidade de Pisa. Putz, esqueci de anotar o nome. Era um cappuccino com alguma coisa por cima. Não sei. Fui até outra igreja piccollina, esta de 1080, muito bonitinha. Toda de tijolinho a vista. O Isaía foi pegar o trem e eu fiquei lá na igrejinha. Uns músicos começaram a ensaiar umas músicas clássicas. Fique assistindo o ensaio, muito legal. Aí voltei para a Piazza.

 Ensaio musical em igreja medieval. A trilha de sonora de um ótimo dia (ouça um pouco aqui)

Fiz um monte de fotos com o tripé, da torre a noite. Muitas ficaram bem boas. Aí estava andando e vi duas mulheres conversando e uma dando aulas sobre a igreja. "Scusa signora, Io sono ascultato, posso farLa una domanda". E comecei a conversar com as duas, ela era uma professora e mostrou outras curiosidades da igreja. No tempo em que ela foi construída, Pisa era uma das principais repúblicas marinaras, ao lado de Gênova, Veneza e Amalfi. Daí, o esplendor e tanta riqueza. No caso de Veneza, ela continua vendendo aquele glamour de festas e carnavais. Pisa vive da torre... (brincadeira, Pisa é una cidade universitária).

Igreja a noite. Uma pena que não pude entrar...

Aí voltei para Firenze. Comi um MacDonalds no trem de volta enquanto ouvia dois africanos conversarem alto e um mexicano dormia na poltrona de trás. E agora, arrumo minha bagagem para chegar, finalmente, à Cidade Eterna.

Beijão,
Murilo

sábado, 6 de outubro de 2012

Dia 11: Da concha do renascimento, surge Vênus

E aí pessoal (cansei do italiano)

Décimo primeiro dia na Itália (25/02). Dia de sol hoje, acordei bem melhor da gripe, embora não tenha conseguido dormir a noite - alguma dica mamma? Fiquei rolando na cama, dormia e acordava. Sei lá. Mas tô bem, o nariz vaza e ainda tusso, mas tô melhor. Acho que é por causa do tempo, no frio eu fico com o corpo meio baleado mesmo.
   
A Ponte Vecchia sobre o Rio Arno. Medieval, hoje é um mercado de joias.

Bem, hoje foi dia de conhecer o Rio Arno e a Ponte Vecchia, um dos cartões-postais de Firenze. A história é interessante. Ela foi construída lá pelos idos de 1300 e alguma coisa. Era usada por açougueiros e vendedores de peixe. Era uma fuzarca, bem popularzona mesmo, para deixar a Ponte da Amizade no chinelo. O pessoal jogava o lixo no Rio Arno e era aquela porcaria. Mas então chegou um chefão qualquer e pôs ordem na coisa, trocou toda aquela bagunça por joalherias. Elas estão lá até hoje. Durante a Segunda Guerra Mundial, ela foi a única que cruzava o Rio Arno que não foi colocada abaixo pelos alemães. Acredita-se que por ordem do próprio Hitler, que não queria destruir esta preciosidade.
A ponte Vecchia, por onde os boa-vida da família Medici cruzavam sem pisar no solo

Colocado depois: a ponte foi construída em 1333, era de madeira e foi derrubada por uma cheia do Rio. Aí foi reconstruída em 1345. Diz-se que o termo bancarrota teve origem ali: quando um mercador não conseguia pagar as dívidas, a mesa (banca) era quebrada (rotto) pelos soldados.

O Rio Arno divide Firenze em o lado de lá e o lado de cá, tendo como referência o Duomo, ou a catedral de Santa Maria del Fiore. A ponte tem outra função interessante. Do lado de lá, tem o Palácio Rici, construído pelos Rici, mas que ficou tão caro que teve que ser vendido a um membro da família Medici (a família mais rica na época áurea de Firenze). Eu cruzei a ponte e fui até o tal Palácio. Bem interessante, bem palácio mesmo. Com seus quartos, salas, ante-salas e banheiros. Guarda uma coleção interessante de pintores do Renascimento do calibre, por exemplo, de Raffaello Sanzio, Giorgio Vasari, entre outros. Perdi um bom tempo no castelo. Mas então voltei para a cidade.
Bem, eu vim pela rua, mas um membro da família Medici que quisesse chegar ao escritório, os chamados ufficci ("escritórios", em italiano), poderia ir por cima, pelo castelo, que é conectado aos outros prédios, indo em direção a ponte Vecchia, passando a ponte ainda em uma contrução elevada, dobrando a direita, e chegado ao Ufficci. Sem pisar no chão.

Renascimento

Eu tive que pisar, e cheguei à galeria degli Ufficci, onde está a maior coleção de arte renascentista do mundo. A coleção dos Medici. É muito interessante, começa no trecento (século 13), com as obras ainda saindo da arte bizantina e começando o renascimento. O destaque são os quadros religiosos de Giotto, todos muito dourados e com traços já parecidos com o que viria depois.
  
 O Nascimento de Vênus, obra máxima do Renascimento (foto da internet)

E o que veio depois foi a explosão de Sandro Botticelli e Leonardo da Vinci, assim, um depois do outro, covardia. Era o quatrocento (século 14) o período áureo do Renascimento. Aparecem algumas obras de Fra Filippo Lippi, que inspiraram Botticelli, e outras de Andrea del Vecchio, mestre de Da Vinci. Uma obra mostra sete virtudes do homem, Piero del Pollaiolo tinha feito seis, mas Botticelli fez a sétima, Fortaleza, muito melhor que aquelas do anterior.
A Primavera, outro de Botticelli. É proibido fazer fotos nei Uficci, por isso, fotos na internet

E então vei a sala dele. Botticelli, e O Nascimento de Vênus, o quadro mais famoso do Renascimento. Eu ficava naquele frenesi de quando eu veria o tão aguardado quadro e, de repente, ele estava lá. No meio da sala. Muito emocionante. E muito lindo, não pelos traços, que já beiram o maneirismo (outra escola), mas pelo significado da obra. Na mesma sala, outra obra-prima do mestre Botticelli, A Primavera, também lindíssimo. Fiquei um bom tempo apreciando a sala de Botticelli, e na sala ao lado, Da Vinci. Só dois, A Anunciação e um quadro inacabado.
Da Vinci, com seu belo A Anunciação

Aí começa o quintecento (século 15) que é o final do Renascimento. Época da descoberta da América e da morte de Lorenzo de Medici, quando Firenze entra em declínio. Mas o quintecento tem as obras de Michellângelo (no Ufficci só tem uma) e Rafaello, outro gênio e seus retratos de olhos esbugalhados. Termina com os quadros escuros de Ticiano. Uma verdadeira aula, passando por obras belíssimas.
  
Piazza de Santa Cruce, onde eu passaria meu aniversário dois dias depois

Achava que já estava bom para o dia. Dei mais uma pernada pelo Ufficci, voltei à sala de Botticelli para me despedir de Vênus, e caminhei até a Piazza de Santa Cruce, bem bacana, com uma linda igreja. Tomei um café enquanto preparava os próximos roteiros. Já era noite. Viajar no inverno já é ruim, ainda mais se o inverno for o europeu. Aqui escurece depois das cinco da tarde, um saco (saudades de quando eu chegava as seis em casa, tomava uma hora de sol, ia para academia e, quando voltava, passado das 20h30, ainda era dia).
  
Vista da Piazza del Michellângelo, uma das várias réplicas de Davi e a ponte Vecchia.

Aí dei uma corrida até a Piazza del Michellângelo, onde tem uma réplica do Davi e uma interessante vista de cidade. Fiz algumas fotos com a máquina que resolveu voltar a trabalhar. E voltei para casa. Agora to tomando um chá com mel e daqui a pouco vou dar uma volta com Vanni. Amanhã tem muito o que ver. Vou começar com o Davi original, que está na Galleria dell' Academmia. É a principal escultura do Renascimento, quiça de toda história. Também quero conhecer outras igrejas e dar mais uma passadinha no Duomo. Ainda vou para Pisa, mas não queria deixar para fazer isso no dia 27, não quero ficar viajando em meu aniversário.
  
Vanni, meu chapa de Firenze, em uma festa underground. Loco!

No mais é isso. Hoje o dia foi ótimo, bem cultural mesmo. Vamos esperar para ver Davi amanhã.

Beijão,
Murilo

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Dia 10: Ronaldinho Gaúcho, o carrasco de Firenze

Ciao bello,

Décimo dia de Itália (24/02). A garganta dói, ouço música brasileira na casa de meu CS [couchsurfer], o irmão dele é músico e está mostrando algumas músicas do Youtube. O Vanni está preparando uma bella pasta all' amatriciana con pancieta (bacon) e pomodoro (tomate). Está quente aqui, bem diferente de lá fora onde eu estava até agora. Jogo da Fiorentina contra o Milan. Maldito Ronaldinho.

Olá pessoal, o dia em Firenze hoje foi muito bom. Dormi e suei bastante a noite. É bom para passar a febre. Tomei um chá muito bom ontem a noite, quentinho e com mel. Acordei bem melhor. Não sei se estou com inflamação de garganta. Se estiver, tô ferrado. Vamos ver com acordarei amanhã (estava me esquecendo de tomar água aqui na Itália, acredita. Agora estou tomando bastante água e comendo direitinho).
 
Gato e cemitério, um clássico. Mas este gato esta na rua mesmo...

Bem, acordei e peguei carona com a mãe de Vanni, a simpática Dona Rita, até o estádio, para comprar o ingresso. Gente boa a Dona Rita, mas fala mais que a Bruna quando está empolgada. Parei no estádio e comprei, fácil, o ingresso. Encontrei um italiano que fala português (é casado com uma brasileira, tem muito disso por aqui) e ele me deu a dica do melhor lugar.

 
 As vespas características da Itália e o mercado repleto de brasileiros

Aí fui caminhar. Buscava um cemitério específico e encontrei o errado. É fácil andar por Firenze com um mapa na mão. Tinha muita coisa para ver, mas pouco tempo. Então passei pela Piazza del Duomo e fui direto ao mercato, onde tinha marcado de me encontrar com o Vanni para almoçar. Passei por uma ferinha bem legal, cheia de brasileiros (ali, o idioma oficial é português). Fiquei batendo mó papo com os brasileiros e cheguei ao mercato, mas não encontrei Vanni. Trocamos algumas mensagens e ele: "Mas tu sei en mercato San Ambrogli?" Eu tinha errado o mercado.



O belíssimo Duomo, por dentro e por fora

Andei um pouco mais e fui chegar à Piazza del Duomo. A catedral Santa Maria del Fiore (o Duomo) é lindíssima por fora, mas bem simples por dentro. Interessamte, não tinha cadeiras, só um amplo espaço aberto. Na cúpula, o belíssimo Juízo Final, de Giorgio Vassari. E na parte debaixo, as ruínas. A catedral foi construída em 1436. Mas aí construíram outra em cima e depois outra e mais outra. Umas cinco, pelo menos. Nas ruínas, dá para ver os vários perfis, interessantíssimo.

No subsolo, as ruínas e os vários perfis das igrejas construídas uma sobre a outra

Na piazza, tem a trindade catedral, batistério e campanário. O Batistério de São João é perfeito. Tem três portas divinas, uma delas foi chamada por Michelângelo de a Porta do Paraíso, tamanho o esplendor. Elas foram feitas por Lorenzo Ghiberti, então com 21 anos. Ele levou outros 21 anos para finalizar as portas, com 28 painéis que narram cenas do Novo Testamento. No interior é ainda mais magnífico. Mosaicos venezianos brilham como ouro, e narram cenas de tortura do Julgamento Final. Tem um Cristo que é bem famoso.



 Batistério de São João com a "porta do paraíso" e os mosaicos venezianos

Depois saí, dei mais uma volta pela praça e voltei para a casa. Teria o jogo, não queria chegar tarde. Muito interessante os estádios aqui. Não tem muito controle, mas as torcidas são comportadas. Eu comprei uma camisa da Fiorentina e fui torcer para o time violeta, ou "viola", em italiano (a camisa é igual ao terceiro uniforme do Corinthians, todo roxo). O estádio é deveras curioso. Você fica bem pertinho dos jogadores separado apenas por um vidro. Sério, a linha do campo fica a dois metros da arquibancada. Vi o Ronaldinho, do Milan, bem de pertinho. Ele é todo mala, mas joga bem mesmo. Tanto que a Fiorentina jogou bem melhor, marcou no primeiro tempo, mas em dois lances de Ronaldinho, no fim do segundo tempo, o Milan virou: 2 a 1. Mas a italianada no estádio é tão tranquila que os torcedores da Fiorentina foram tirar foto do Ronaldinho, quando ele fez o gol. No final do jogo, os fiorentinos voltaram de cabeça baixa e tranquilos para a casa. Melhor para mim. [veja dois lances do jogo aqui e aqui]


No estádio do Fiorentina, vemos o jogo pertinho. Milan 2 a 1 Fiorentina

Agora estou aqui com o pessoal. Minha boca queima da pimenta da pasta (um baita pratão, italiano come demais). Mas tudo bem, tô aqui conversando com o pessoal, eles imitam o brasileiro falando, muito engraçado [mais pra frente eu conto a história do Cacao Meraviglao]. Muito bom estar em CouchSurfing, beeeem diferente de um frio hotel (como em Bologna e em Verona). Espero que seja assim em Roma, chego lá no dia de meu aniversário.

Tosse, tosse. Estava frio no estádio. Me agasalhei e me escondi debaixo da toca quando estava lá. Quero só ver como vou estar amanhã.

Beijo mamma, beijo pappa, saudades de vocês.
Murilo