segunda-feira, 25 de abril de 2011

Deslumbre

Há algum tempo aprendi a não me deslumbrar com as coisas. Outro dia tomava vinho com o cineasta Francis Ford Coppola, enquanto conversávamos trivialidades no Lago de Itaipu. Oh, grande coisa! Coppola, figuraça, é um cara comum. Como você ou eu, ele tem necessidades fisiológicas, problemas de insônia, torcicolo. Embora seja um mito.

Aplico a mesma regra do não deslumbramento a lugares. Tenho curiosidade de conhecer os locais que marcaram a história mundial - Colisseu, Pirâmides do Egito, Ilha de Páscoa, entre outros. Mas ao chegar nestes locais, percebemos que tudo é feito de pedra ou concreto. É palpável, nada mágico, de outra dimensão. É chão, céu e um monte de coisa no meio. Como na nossa vizinhança ou no local de trabalho.

Marcão, parça de viagem.

Mas em Machu Picchu não foi bem assim.

Criei uma expectativa tremenda antes de entrar na sagrada cidade inca. Era o ponto alto desta viagem que venho contando para vocês. Esperava encontrar algo especial, mas tinha sempre a tal regra do não deslumbramento. E, naquela manhã, saberia se a tal regra se aplicaria também a Machu Picchu.

Fila em Machu Picchu. Deslumbre ou não?

Marco e eu acordamos bem cedo naquele dia. Ainda era escuro e já estávamos de bilhete na mão, tomando café na rua, na fila do ônibus prontos para chegar à cidade sagrada.

Machu Picchu fica no alto de uma montanha. Ela foi encontrada por acaso, pelo historiador norte-americano Hiram Bingham, em 24 de julho de 1911. Talvez o deslumbramento de Bingham tenha sido maior que o meu quando viu a cidade perdida, enquanto era puxado pela mão por Pablito Alvarez, um peruano de 11 anos, filho de agricultores.

Para chegar até lá, atualmente, é mais fácil que nos tempos de Bingham. O ônibus zigue-zagueia ceifando a encosta da montanha até chegar ao Parque Arqueológico. A subida demora pouco, mas os vai-e-vens me ajudam a refletir sobre aquele fim de viagem. Estaria, em minutos, diante de um dos monumentos mais importantes da história.

Primeira impressão: Machu Picchu e Wayna Picchu.

Entramos na fila do Parque. Turistas de roupas coloridas e capas de chuvas roubam um pouco da magia do lugar. Até que, após uma curva, a cidade inca se abre em minha vista. Pedras, muitas pedras, e uma montanha ao fundo.

A regra do não deslumbramento conhecia sua primeira exceção...