Explicadas as falhas, voltamos ao trem. Viagem curta, quatro horas talhando a Suécia no sentido Norte-Sul. Enio, Juttel e eu novamente juntos. A tiracolo dois turcos, dois mexicanos e um bando de sueco silenciosos. Também tinha cachorros, crianças, pessoas loiras, e um cara gordo que pediu o nosso ticket um par de vezes.
O trem tem vagões de tudo quanto é tipo. De ricos a miseráveis, passando por portadores de cães; vagões-restaurantes e com parques para crianças brincarem. Entre os vagões, portas difíceis de se abrir - enquanto nós procurávamos nosso vagão, abria e fechava as portas com as mãos e com muito esforço. Bem depois fui saber que bastava apertar um botão ao lado da porta que ela se abria automaticamente. Tivesse visto outra pessoa fazendo, teria aprendido. Como diz o Enio: "Monkey see, monkey do!"
Sentamos próximos a uma bonita família árabe (minha aposta): papai, mamãe e filhinha. Ao meu lado uma menina que não descolou os olhos do livro e do lado do Enio um cara que não descolou os olhos da gente. "Como esses macaquitos são barulhentos", deve ter pensado. O cara não conseguiu ler nada.
O sueco tentou voltar para o livro quando nós sossegamos um pouco. Na poltrona ao lado, a mãe árabe ensinava a filha a desenhar - cena linda. O Juttel preenchendo alguns cartões postais para a tia e a avó (sim, ele foi criado pela avó), o Enio folheando uma revista do trem e tomando a água Loka e eu escrevendo aquele primeiro post. Só para quebrar o silêncio, o Enio proferiu a frase: "Já vi muita revista feita nas coxas, mas desse jeito só agora" e apontou para a revista que folheava. O nome: "Kupé".
Estava cansado de ficar parado e fui andar. Sei que vaguei pelos vagões algumas vezes. Em uma delas, com o Enio e o Juttel fomos tomar alguma coisa no restaurante. Ficamos um tempo conversando com o Juan Nepote, um mexicano de Guadalajara gente finíssima. Conversamos sobre futebol, divulgação científica, fronteira com os Estados Unidos, novelas e, claro, Chaves.
Com o mexicano Juan, bate-papo sobre "El Chavo del Ocho"
Reconhecemos que o Brasil todo é apaixonado pela criação de Roberto Gómez Bolaños, que o Silvio Santos é nosso herói por manter o Chaves na programação, e que os caras do SBT são uns criminosos por editarem os episódios. Falamos de curiosidades e algumas piadas de Seu Madruga e Quico, disparado os personagens mais engraçados:
Chiquinha: Me diga papi... Por que os pássaros voam?
Seu Madruga: Porque eles têm asas.
Chiquinha: Me diga papi... E porque os pássaros têm asas?
Seu Madruga: Pelo mesmo motivo que os elefantes têm trombas.
Chiquinha: Me diga papi... E porque os elefantes têm trombas?
Seu Madruga: Porque senão eles seriam capivaras!
Chiquinha: E se as capivaras tivessem trombas seriam elefantes?
Seu Madruga: Não... seriam trapezistas de algum circo tchecoslovaco!
O Seu Madruga é o melhor!
Bem, a viagem seguiu e nós nos acalmamos. O Juttel conseguiu dormir estirado entre poltronas e eu até que tirei um cochilo. O trem parou na estação de Lund e logo em seguida em Malmö. Nos despedimos do Enio, ele pegaria um ônibus para Copenhague para ficar na casa de uns camaradas.
Quanto ao Juttel e eu, bora bater perna por Malmö, se impressionar com o nome das ruas e descobrir que não havia mais vagas no Hotel Fórmula 1.
Mas isso é assunto para o próximo post.
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