Uma nuvem de poeira se formou atrás do 4X4 de André. Ele, o piloto, focou a frente e para 'Gilson', um dos dois GPS no painel do carro. Estávamos perdidos. Em pleno deserto do Atacama, o carro fazia uma segunda curva buscando o caminho correto.
Era o segundo dia em San Pedro del Atacama, a cidade-dormitório do famoso deserto. Quando cheguei, após subir e descer os Andes, fui recebido pelo poderoso e onipresente vulcão Licancabur, pano de fundo de todos cartões-postais da região.
Ajeitei a mochila nas costas e fui bater perna pela cidade, me esgueirando por aquelas ruelas de pó e turistas. Então encontrei o Hosteling Internacional – boa cadeia, barata para alberguistas credenciados. Ainda estava preocupado com o problema do dinheiro, mas precisava, enfim, começar a viagem.
Foi por isso que aceitei o convite de um grupo de brasilisenses gente boa para explorar com eles a região. Laerte, Márcia e André estão entre os grandes amigos dessa viagem; sobre eles devo me demorar um pouco mais, em breve.
Quando Laerte pediu uma informação em inglês para uma peruana, corri a ajudar. Un carjero automatico, ele queria. Ao me agradecer respondeu: “Obrigado”. Era brasileiro, um dos muitos que encontraria em San Pedro. Segui passeio com eles.
Conheci Márcia e André e, posteriormente, os casal de gaúchos Sidney e Salete. O time estava feito. Juntamos os dois carros e fomos em busca de sal, muito sal.
Sal, próprio para um salar
Após conferir as informações com 'Raquel', o outro GPS, André finalmente encontrara o caminho. Já tínhamos acidentalmente conhecido a pequena cidade Tocomao e apreciado sua fabulosa torre branca – a Márcia não dormiria aquela noite se não encontrássemos a tal torre. Também passamos num tal Jerê com seus ricos canais de água em pleno deserto. A pouco objetividade de André e sua tecnologia seria alvo de chacota do gracioso Sidney. Mas agora, foco: as tais Lagunas Cejas.
Lagoas mais salgadas que o mar morto. Profundidade de dezenas de metros. Sal, muito sal. Pulamos nas lagunas e, para surpresa de todos, não afundamos. Incrível. Por ali, aliás, o pessoal se aglomerava, como num Piscinão de Ramos chileno. E pelo alto, as lagoas eram observadas constantemente pelo Licancabur.
Depois do primeiro pulo, meus olhos ardiam. Além de entrar calçado para não ferir os pés nos cristais de sal, sugere-se que não mergulhe na laguna. Eu não segui a sugestão. O Laerte também não.
Aliás, protegi bem o meu pé com uma sandália que até hoje reserva um pouco de sal entre as fivelas de couro. Mas não a mão. Um corte doído no dedo virou meu companheiro de viagem por muitos dias.
Temperados, conhecemos ainda os Ojos del Salar, duas lagoas redondas e menos salgadas no meio do deserto. Tiramos a camada de sal do corpo para voltarmos a San Pedro de Atacama. O dia estava encerrado.
Mas o passeio só começara.
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