terça-feira, 17 de março de 2009

Em linha reta, rumo à Salta

Toda história precisa de um começo, a minha começa com um alemão. Max, ou Maximiliano, estava sentado no banco ao lado do terminal de Foz do Iguaçu, curtindo seu momento de gringo enquanto aguardava o ônibus para Puerto Iguazu. Fui eu quem puxou a conversa. Como todo alemão, Max viajava por Foz e aproveitava a proximidade da tríplice fronteira para conhecer os países vizinhos – ou isso às avessas. Eu também estava em viagem.

Max, primeiro personagem da história. Atuação apagada, mas gente boa

Planejava há meses um breve tour pelos Andes. Coisa corrida, quatro países em pouco mais de três semanas. O local de saída? Puerto Iguazu, rumo à Salta, no norte da Argentina. Quando encontrei Max, eu ia comprar a passagem para o início da viagem.

Para Salta. Linha reta!

Os problemas com a compra da passagem não me abateram (leia o respiro: “Em Foz do Iguaçu, vá a Puerto Iguazu”), no dia sete, estava firme e forte para o início da viagem. Bagagem arrumada, rumei pra cidade do país vizinho, com uma preocupação na cabeça. Em breve comento sobre isso.

Início de viagem em Puerto Iguazu. E um rosto branca me encarava

Cheguei na rodoviária de Puerto, ajeitei minhas coisas num canto, vi um pessoal passar aqui, outro ali, ajudei uma senhora a descer uma escada com a bagagem e, quando olho para frente, percebo um rosto branco me encarando.

Era o Max!

Solamente orinar

Foram 23 horas dentro de um ônibus. De Puerto para Corrientes e desta para Salta. Viagem longa de poucas paradas. Serviço de bordo com comidas horríveis: empanado de frango gorduroso e frio (leia ao lado as cinco coisas que odeio em viagem de ônibus), salada de repolho num potinho, suco e um alfajor sem-vergonha.

Ônibus padrão argentino. Vinte e três horas de muita emoção (julgue pela expressão das pessoas na foto)

O detalhe é que o banheiro estava preparado só para urinar. O que, aliás, foi regra em todos ônibus da viagem. Sorte minha não ter fetiche por fazer o número 2 em viagem de ônibus.

Todos os idiomas e um aviso: só urinar!

Nas paradas cruzava com o tímido Max. Devoramos uma hamburguesa com Pepsi, na primeira delas e vimos uma capelinha numa rodoviária, em outra.

Para fugir da comida do ônibus, hamburguesa e Pepsi. Igualmente ruim

Pela janela, vi o ônibus rasgar o solo argentino. E em linha reta. Longas estradas objetivas, com foco em Corrientes e depois em Salta. Grandes áreas de pasto para gados e estranhas casinhas rodeadas de bandeiras vermelhas.

Pastos, lagos. Paisagens de uma longa viagem. Faltou a foto do Gauchito

Eram homenagens ao beato Gauchito Gil, considerado santo pelo povo da região de Corrientes. Gauchito seria o Robin Hood argentino – roubava dos ricos e dava aos pobres. Por seus crimes, teve um fim trágico. Foi pendurado de ponta-cabeça e depois perdeu a dita cuja.

Montanhas

As paisagens mudaram e, depois de horas dentro do ônibus, Salta já se avistava pela janela. O relevo do norte argentino começou a ficar montanhoso. “Xii, você vai ver muitas montanhas aqui”, disse uma entusiasmada moradora de Salta, apos um comentário meu. Para uma viagem aos Andes era de se esperar.

O Flecha em rodoviária. Quase em Salta

O ônibus Flecha então parou e eu pisei em minha primeira parada. Despedi-me de Max, prometendo encontrá-lo novamente mais tarde. Nunca mais o vi. Joguei a mochila nas costas e fui buscar um hostel.



Mas, só para não perder o costume, começava a viagem com um grande problema para resolver: dinheiro!

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