No início da caminhada, a infantaria se uniu á turma do Borracha
Começava a nossa volta. Cruzaríamos mais uma vez o monte em sua linha mais longa, andando os 15 km entre o Hotel Quati e o Hotel San Francisco. No dia seguinte, começaríamos a descida. O grupo se dividiria outra vez, com a Turma do Borracha indo por um caminho mais curto enquanto Tesing e Antonia levava o resto do pessoal.
Tomamos café e ajeitamos as mochilas. Alguns aproveitaram para se despedir do esqueminha do banheiro que, ali no Quati, tinha uma vista fantástica. Uma colega, aliás, enquanto fazia o pipi não percebeu dois carregadores Pemóns passarem por ela. Disfarçando, ela disse um “bom dia” bem natural. “Não ia ser mal educada”, brincou depois.
O esqueminha do banheiro, ainda no acampamento Base. Tenda vertical e banquinho de plástico
A Turma do Borracha. No centro da foto, Veridiana e suas marcas na canela
Mesmo com o conforto, nem todo mundo tinha desenvoltura para fazer o número 2 ali, próximo da natureza. Teve gente que, reza a lenda, terminou a viagem sem visitar o esqueminha. Outra, quando foi pela primeira vez já no Hotel San Francisco, foi ovacionada e festejada como se tivesse realizado um feito. E realizara.
Três países
Deixando o esqueminha de lado, era hora de calçar a sôfrega bota, ajeitar a mochila nas costas e partir. Fomos guiados pelo Borracha pela primeira vez. Ele nos levou, no passo da retaguarda, até o Ponto Triplo quando nos encontramos com Antonia e Tensing.
No Ponto Triplo, os 14 expedicionários. Glamour cor-de-rosa de Soninha, e face fantasmagórica de Andri
Não era um dia de muita exploração, só caminhada. Mas tivemos que parar no marco da tríplice fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana, uma pirâmide branca erguida no alto do Roraima. Andri realizou a “Corrida dos Três Países”, dando um giro em torno do marco em dois segundos. Um recorde.
Localizado no Planalto das Guianas, os 31 km² do Monte Roraima é dividido em partes distintas pelos três países. Venezuela é dona do maior naco, 85% (as partes Sul e Oeste, incluindo a “porta de entrada”) que é administrado pela Parque Nacional Canaima. A Guiana tem 10%, a região Norte, formada por cavernas de difícil acesso. Cabe ao Brasil os 5% restantes do tepui, a ponta Leste, que é administrada pelo Parque Nacional do Monte Roraima.
Dura caminhada
Pouco depois do marco, nos separamos do grupo do Borracha e saímos em trote atrás de Tensing e Antonia. Ali perto, paramos no Fosso, uma imensa cratera no chão com um lago cristalino ao fundo e uma galeria de cavernas. Poderíamos descer e nos banhar, mas o pessoal não estava com estes humores. Melhor ficarmos secos, diferentes de uma turista que, certa vez, resolveu pular no fosso e cortou os pés nos cristais do fundo. Na ocasião, quando o guia foi tratar dos pés da moça, o marido ficou com ciúmes. Histórias do Roraima.
Parada no Fosso. Tensing e sua máscara a Homem-Aranha
Mas o dia também não estava para contos. Fazia um tempo cinza e úmido e a mochila mais uma vez pesava nas costas. Seguimos Antonia em passo rápido até chegarmos a um rio para esperarmos Tensing com Marli e Jane nos alcançar. Deitei e fiquei vendo um Charlie beliscar alguma a coisa poucos metros de meus pés.
Os guias Tensing e Antonia guiaram a Infantaria nos 15 km
Os guias se reencontraram e conversaram sobre a logística. Antonia ficara sabendo por um carregador, que vinha em sentido oposto, que o Hotel Guácharo estava ocupado. Teríamos que desviar para o Hotel San Francisco, mais bem localizado, mas menos espaçoso e confortável. Justo naquele dia.
O dia não estava convidativo para explorar o fundo do Fosso. Vontade não me faltou
San Francisco
Cheguei realmente cansado ao San Francisco. As barracas já estavam montadas e calhou de a 33 estar na parte principal do hotel. Andri, em gentileza ao casal curitibano, foi para uma região isolada cedendo a vaga dele. Jane e Léo também ficaram separadas.
O espremido Hotel San Francisco dividiu os aventureiros em pequenos grupos
Até que o resto do grupo chegasse, procurei lugar para pendurar minhas coisas. Tirei a bota molhada, coloquei a roupa quente de dormir e, pela primeira vez àquela hora, fiquei dentro da barraca. Precisava esticar as costas e descansar.
A dica do travesseiro: enrole as roupas com a toalha e amarre as pontas com barbante
Com o grupo inteiro, almoçamos e tomamos café da tarde. Saímos, a infantaria original, para buscar sol, mas a neblina teimava em deixar o lugar todo úmido. Então ficamos com todo o grupo analisando os itens de sobrevivência que Alice e Veridiana tinham levado para o monte. De pedras de sabão a balas Halls e batata Ruffles, de dezenas de sacos plásticos a cremes para pele, xampus e sprays para tênis. Por isso a mochila estava tão pesada.
O apertado Hotel San Francisco não era convidativo para conversas e naquela noite dormimos mais cedo. Ajeitei meu travesseiro novamente para ter uma boa noite. O saco de dormir tinha sido uma grata surpresa, não me deixando na mão nenhum dia. Precisava de noites confortáveis. No dia seguinte, o grupo sofreria uma racha.
Dicas deste post
- Descanse bem antes das caminhadas. Buscar o mínimo de conforto, mesmo dentro de barracas, não é frescura. A dica do travesseiro é válida (faça um amarrando roupas e toalha). Tenha um bom saco de dormir e não esqueça o isolante térmico. Garanta uma muda de roupa seca e limpa (calça, blusa, meia) para dormir. Leve uma blusa sobre pele.
- Está no check list, mas não custa lembrar: sacos plásticos, papel higiênico e álcool em gel para o esqueminha do banheiro. Com o tempo você pega a prática.
- Ainda sobre o banheiro, tenha cuidado com a alimentação para não precisar ir toda hora. Imagine dar desarranjo no meio da caminhada!
- Se o dia tiver bom e a turma animada, eu teria dado uma parada mais demorada no Fosso. Leva uns 15 minutos para descer - por uma entrada lateral - e explorar seu fundo. E nadar nele, claro.
- O San Francisco não é um bom hotel, muito apertado e sem lugar para deixar as coisas. Também está no check list: leve alguns metros de barbante para improvisar um varal. É sempre bom aproveitar qualquer migalha de sol para secar as coisas.
- Avalie quais são as bugigangas que vc realmente precisa: pedras de sabão, balas, cremes e batatas fritas, por exemplo, são dispensáveis e só vão pesar sua bagagem.
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