sábado, 8 de dezembro de 2012

Sábado. A ilha de Rober, Nacho e Vianca

No último dia, a chuva castiga Páscoa

Estava preocupado com os caras do camping. A chuva realmente castigava a ilha. Chovia forte, ventava. O mar estava bagunçado. No dia anterior, me despedira de Páscoa e sabia que não faria mais nada. Queria inventar alguma coisa com João e Daniel e, embora tenha acordado tarde, fiquei na varanda esperando eles saírem das barracas enquanto eu lia Tima Maia e tomava café.



Olhava para as barracas e via a chuva, as árvores se encurvarem e as ondas brancas castigarem as pedras negras. O mar trocara o azul turquesa por um cinza melancólico e  esta seria minha última visão da ilha. Deu 11h e me toquei que os caras não estariam mais no camping, com aquele vento açoitando as barracas. Coloquei a bota, a calça e a capa e fui ao centro. Recebi a gentil carona de Roger, marido de Marta, os donos do hostel, e fui à feira de artesanato. Tudo que economizara até então seria gasto na feira.

Uma semana de economia para queimar tudo em presente na Feira de Artesanato

Comprei os presentes, aff, pechinchei, conversei com vendedores e fiquei aprendendo sobre a cultura local. Cada ítem cheio de significados, talvez para justificar a compra de uma máscara por um preço tão alto. Não tinha o que fazer, lá fora seria recebido pela chuva. Preferia o sorriso, alguns interesseiros outros sinceros, dos rapa nui na feira de artesanato.

Comida boa dos chilenos. E eu fiquei com aquele peixe cru no Kalimara...

Mas ficara tempo demais e resolvi almoçar, de novo no meia-boca restaurante Kalimara só para usar o wifi. De novo não adiantou, meu iPhone não trabalhava, a batata frita estava murcha, o pescado meio cru (não era ceviche). Rober me escrevera por WhatsApp que ele e a trupe estavam em um restaurante melhor. "Pra que serve o CouchSurfing senão para orientar em quais restaurantes comer”, me chamou a atenção Rober.

Rober, Nacho e um doido com a roupa do ariki, o rei rapa nui

Saí do Kalimara e me juntei aos amigos. Meus grandes companheiros de viagem, Rober, Nacho, Vianca e a pequena Amanda, sempre com seus sorrisos, estes sinceros, prontos para me oferecer algo e me surpreender. Comi uma torta de limão enquanto eles almoçavam deliciosos pratos com peixes e camarão. Pensei na batata-frita insosa, droga! Tiramos fotos, rimos. Fiquei sabendo que Lev, o "mãozinha", tinha ido às pressas a um hospital de Santiago (era alguma coisa no rim), mas estava bem.

Nacho e Vianca, pais de Amanda, uma das famílias mais bonitas que eu já conheci

Nos separamos novamente, fui ao hostel e encontrei os brasileiros. Mais bate-papo, agora no hall, sempre com a Escudo na mão e o canadense Chris sem entender nada de nosso português. Decidimos sair, tomar chuva, comprar algumas coisas na feira e algo para comer. Matamos empanadas, cuecas viradas e um misterioso salgadinho de sabor indecifrável enquanto o quarteto de canadenses comia completo (cachorro-quente) só com uma salsicha bizarra. Zoavam de nosso salgado e falavam da salsicha que dobrou de tamanho na panela. Clima de hostel.



Por WhatsApp, Rober, de novo, me convidou para comer sopaipillas na casa de Nacho e Vianca. Peguei a capa e caminhei, a casa era quase vizinha ao Mihinoa. De novo aqueles sorrisos. Amanda sentadinha no sofá, Rober e Vianca fazendo as sopaipillas e Nacho cuidando de Amanda. Uma divertida despedida, eu tomando mais algumas goleadas no PES3 e ficando puto, Nacho arrancando algumas notas em duas violas, uma rapa nui outra hawaiana, e nós dois cantando para Amanda. Na mesa, Rober e Vianca esticavam a massa para fazer a sopaipilla, que depois seria frita e temperada com um molho doce. Nacho abriu um vinho e depois outro e me presenteou com um bom chileno de sua coleção e um livro sobre vinhos chilenos. Agradeci com um beijo no rosto.

 
Despedida de meus amigos, na casa de Nacho e Vianca. Vou sentir saudades

Nacho, Vianca e Rober me receberam da melhor maneira que alguem pode ser recebido. Melhor que me encantar com o nascer do sol em Tongariki, ou andar pela cratera verde do Rano Kao, subir o Terevaka ou caminhar pelos moais abandonados de Rano Raraku, melhor que a história da ilha e sua fabulosa natureza, com o mar azul se tornando branco ao encontrar as rochas negras, ou os coqueiros perfilados na polinésica praia de Anakena. Melhor que tudo isso, foi conhecer estes anjos chilenos, Rober, Nacho, Vianca e a princesinha Amanda. Foi me encantar com o espírito de generosidade destes novos amigos, foi ver uma familia linda e feliz, e aprender com eles muito que eu quero para minha vida. A Ilha de Páscoa é linda, mas as pessoas que vivem nela, rapa nuis, continentais ou gente de outros lugares, foi a melhor parte da viagem.

Nenhum comentário: