A viagem foi típica boliviana. Espremido na última poltrona do ônibus entre a janela e as pernas grossas de uma chola gorda, tentei dormir. Em vão. Então, fiquei fazendo caretas escondidas para uma boliviana pequena de traços marcantes. No banco da frente, o Ben teve mais sucesso. Marco, que emprestara os ombros, olhava desconfiado. Culpa do cansaço ou da já grande intimidade entre os dois amigos. Ou as duas coisas.
Pela janela vi as casinhas marrom-acinzentadas de La Paz se tornarem passado. Se comparar as duas viagens, Andes e Europa, La Paz seria a minha Berlim. Uma corridinha pelo centro, olhadela em alguns pontos importantes, uma bate perna aqui e ali. Só.
O ônibus corria ligeiro. No aparelho de som logo acima de minha cabeça, a cantora folclórica Nardy Barron entoava seu belíssimo “Vida ya no es vida”, música símbolo de minha passagem pela Bolívia. Ainda hoje, quando ouço, me vem à lembrança essa bonita terra de cholas, coca e lãs de alpaca.
O azul do Titicaca foi ficando mais nítido. Curti aquela sensação gostosa de ver algo pela primeira vez e de, aos poucos, transformar a ideia que você tem de alguma coisa em o que essa coisa de fato é. Contornamos o lago, buscando uma balsa para atravessar o Estreito de Tiquina, que separa a parte menor (Huinaymarca) da maior (Chucuito) do Lago Titicaca. Um pouco mais e nossas malas desceriam do ônibus, já no centro de Copacabana.
Estávamos cansados. O pescoço de Ben doía das tentativas de dormir. Eu já me acostumara com o aperto, mas queria descanso. Noite, só gstaríamos de hostel, cama e banho quente. Mas aquela noite prometia algo mais.
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