domingo, 26 de julho de 2009

¡Alpaca purisima!

A vendedora do Mercado de las Brujas defendia seu produto: “És 100% alpaca, purisima”. Aquilo virou jargão entre os três amigos viajantes: “Alpaca purisima”, diríamos muitas vezes. Ou Baby alpaca, ainda de melhor qualidade. Comprei alguns presentes e uma blusa 100% para mim, enquanto tentava imaginar de onde vinham tantas alpacas.

Na calle de las brujas, o famoso mercado. Produtos à base da pobre alpaca

A alpaca (Lama pacos), prima da lhama (Lama lama) e do guanaco (Lama ganicoe), mas apenas amiga da vicunha (Vicugna vicugna), é um camelídeo criado em fazendas no Chile, Peru e Bolívia, ali nas altitudes dos Andes. Como a lhama, a alpaca foi domesticada pelos incas e, ainda hoje, é aproveitada pelo povo andino. Mas enquanto a prima é usada, principalmente, como animal de carga (vide as caravanas de lhamas na época de ouro da mina de prata de Potosí), das alpacas se busca a lã para confecção. Ainda melhor se for puríssima.

Não fui apresentado ao guanaco (à esquerda) e da alpaca (à direita) só conheci a lã. Mas corri atrás de vicunhas (acima) a mais de 4 mil metros e disputei algumas fotos de lhamas (abaixo) com meu amigo Sidnei, no Atacama. É a fauna camelídea da viagem.

No El Tatio, no Atacama, as vicunhas se escondiam entre gêiseres e me faziam perder o fôlego nas dunas. No tour por Uyuni, as lhamas vinham revirar nosso lixo ao amanhecer do dia. Agora, as alpacas comandam. Seríamos lembrados de sua presença a cada mercado de artesanato.

Mercado de las Brujas, bugigangas para todos os gostos. Regalos de viagem

Como no famosíssimo mercado na Calle de las Brujas, atrás da Igreja San Francisco. O mercado é assim conhecido porque, ademais chompas, blusas e pantalones de alpaca puríssima, são vendidos fetos de lhama ressecados e outros artigos místicos usados no ritual da Pacha Mama (outra herança dos incas).



"Copacabana, Copacabana"


Após o fabuloso desayuno americano, caminhamos por La Paz. Encontramos muitos meninos engraxates com seus rostos cobertos por panos negros. “Ellos tienen verguenza por pedir lesmosla”, explicou Ben, comprovando com Marco a pronúncia correta das palavras. “Verguenza” e “lesmosla”, mais duas para meu castelhano de fronteira.

Do mercado, o topo da igreja de San Francisco

O dia, bem da verdade, foi perdido. Fiquei naquela luta eterna de trocar meus pesos chilenos por bolivianos. Ficaria na casa de um amigo do Couchsurfing, mas não fiquei. Marco e Ben ficariam e um hostel com um casal de canadenses que conheceram em Sucre, mas não ficaram. Muitos “nãos” em tão pouco tempo. A mim restava Coroico, o passeio de bicicleta mais perigoso do mundo, montanha abaixo - uma das várias dicas do amigão Daniel, não o catarinense, mas o carioca que conheci em San Pedro del Atacama.

Também não fui.

Isso é Bolívia. Na zona do cemitério, aglomeração de carros e uma parada para o almoço das queridas cholitas. Trabalho duro.

Marco e Ben seguiriam para Copacabana, que também estava em meu itinerário. “E aí Murilo, já se decidiu para onde vai?”, perguntou Marco em castelhano, acentuando o ‘ri’, de Murilo, como sempre faz. Desisti da loucura de Coroico.

Como nas conduções da cidade, os ônibus para fora de La Paz também têm seu destino anunciado pelo motorista.

“Copacabana, Copacabana”, era o grito do motorista indicando o destino da condução. “Copacabana, Copacabana”, mais um bordão que repetiríamos muitas vezes. Juntos, pois eu seguiria viagem por um tempo mais com meus amigos.

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