sábado, 11 de abril de 2009

... ao pôr-do-sol no Vale de la Luna

Estávamos pronto para encarar a areia. Se bem que não era preciso levar tão a sério. “Você quer areia? Tome areia”, dizia a brisa, desafiante. Vale de la Muerte, sobre dunas gigantescas éramos açoitados por um vento sádico.

O 4X4 de André voltara à ativa. Ele, o motorista não o carro, tinha tirado o dia para conversar com os GPs Gilson e Raquel e ajustar os ponteiros. Por isso não fora conosco ao El Tatio. Queria deixar o carro nos trinques. Ouvir piadinhas de um tal gaúcho sobre a navegação do 4X4 nunca mais.

Prancha nos braços e uma duna pela frente. Galera curte o sandboarding

Chegamos ao Vale de la Muerte e duelamos com o vento. Perdemos feio; quase não conseguimos fazer fotos. Após a surra, fomos até a duna onde uma turma fazia sandbording. O Laerte, a Márcia e eu resolvemos subir a duna gigante. Eu, metido, fui no pique. Cheguei com a língua que era uma gravata. Laerte e Márcia, mais concisos, demoraram um pouco mais. Mas chegaram.

Laerte chega. Quanto a mim, meu reino por um balão de oxigênio

Vista bonita, Licancabur lá adiante, sol na descendente. Queríamos mais. Nos encontramos com os gaúchos e fomos ao Vale de la Luna. Nome digno, o lugar é magnífico, para Louis Armstrong nenhum botar defeito. De lá entramos no parque para o ponto alto do passeio: ver o pôr-do-sol no vale.

Vale de la Luna. Vista impressionante

Engraçado pagar entrada pra isso. Estávamos no meio do deserto, não tinha cerca nem nada, só um portal de entrada. Mas todos passam pelo portal, pagam entrada e seguem viagem. Curioso.

No alto do vale outra cena embasbacante: centenas de pessoas andando pela crista do morro, como formigas numa gigantesca bomba de chocolate. A fila começa pertinho e some lá pra frente. Com o tripé na mão, andei apressado, mas jamais chegaria ao final do vale.

Formigueiro sobre a bomba de chocolate

A Márcia, o Laerte e eu paramos para aproveitar a despedida do sol. Ele que nos recebera tão bem lá no El Tatio agora dizia adeus. Era coisa de horas, uma noite e uma madrugada depois ele voltaria. Ainda assim deixaria saudades.

Últimos minutos do astro-rei. O pessoal não perdeu nem um instante

O pôr-do-sol por si só foi comunzão. É isso aí, tchau e bença sol, vai lá que amanhã a gente se fala. Mas a caminhada das pessoas, se equilibrando no alto do vale, foi um show a parte. Os últimos raios solares em sua inclinação mais bela deixavam a atmosfera ainda mais radiante.

Silhuetas. Agora só amanhã

E pronto, escuro. O movimento oposto das pessoas e aos poucos o vale ia ganhando ares do silêncio. Queria ficar por ali até o nascer da lua – bem apropriado, aliás. Mas o pessoal não estava muito a fim de esperar as horas que separam o pôr de um astro e o nascer d’outro. Como bom caroneiro, segui viagem de volta com eles. As horas em San Pedro estavam acabando para mim.



Deu tempo para salvar as fotos, me despedir de Márcia e Laerte e tomar uma cerveja local com os amigos. Mais tarde me demoraria ajeitando minhas coisas e me esgueirando no banho comunitário que quase me prega uma peça. O corpo todo sulforoso e cheio de areia, e um fio d’água pingando paciente sobre minha cabeça impaciente. Enquanto me lavava, minha imaginação se deslocava para um outro lugar.

Uma terra de cholas, coca, minas, lagoas e de um grande salar.

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