sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Pernas em Macchu Picchu

Foi difícil passar por Machu Picchu e ignorar a cidade inca. Tínhamos hora marcada na porta de entrada da trilha que leva à Hayna Picchu, a onipresente montanha atrás de todas as fotos da cidade. Os cabelinhos do braço estavam de pé quando passei pelas construções cheias de simbolismos e pedras perfeitamente justapostas. As ignorei. Seguimos olhando para frente em direção à fila.

A foto clássica. O ponto auge da viagem tinha sido alcançando.

Talvez não tenha sido a melhor ideia. Andamos um bocado por trilhas, passando por antigos postos de guarda incas e chegando ao topo da montanha. Fervia de turistas por lá. Alguns exibindo a bandeira e sendo reprimidos por isso – em patrimônios da humanidade é proibido hastear estandartes.

Do alto de Hayna Picchu tentamos identificar a puma de Machu Picchu.

Bonita a vista – bem mais ao alto que os 2.350 metros acima do nível do mar de Machu Picchu. Víamos a estrada que leva ao Parque, como uma serpente nas costas da montanha. Reparamos a cidade em forma de condor, pontilhada por capas de chuva coloridas - turistas e lhamas é o que mais se vê em Machu Picchu. Tomamos um lanche, tiramos fotos e saímos de lá. Fomos à Grande Caverna, local para rituais religiosos na encosta de Hayna Picchu.

Lhamas e turistas é o que mais se vê no Peru.

Nunca andamos tanto. Voltamos exaustos à cidade inca e, pela segunda vez, a ignoramos. Era hora de comer alguma coisa fora do Parque Arqueológico: tomamos uma sopa com Coca-Cola (!). Esticamos as pernas, relaxamos. Ainda teríamos toda a tarde.

A serpente, o puma e o condor

Os incas foram um povo interessante. Ligados à natureza, eles botavam símbolos em tudo – do formato de um templo ao seu posicionamento em relação ao sol. A trilogia inca – os três níveis espirituais representados por animais – está por toda a parte: a serpente diz respeito ao mundo de baixo, o Ukupacha, o mundo dos mortos; o puma é o mundo do meio, Kaypacha, dos homens; por fim, o condor é o mundo de cima, Hananpacha, o mundo dos espíritos.

Simbolismos: pedra imita a montaha Hayna.

Com um guia turístico, aprendemos sobre a trilogia. Vimos como as pedras do templo do condor se parecem com as asas da ave; conhecemos o templo das três janelas também em referencia à trilogia. Passamos pelas áreas agrícolas e urbanas da cidade inca.

Casa de las três ventanas, uma das várias habitações da cidade inca.

Lá do alto, no início da cidade, o recinto do guardião. A primeira zona agrícola, em forma de escadaria, onde lhamas pastam atualmente. Depois, a porta principal, a torre, os depósitos, as fontes. Conhecemos o setor real, provável moradia do imperador Pachacuteq. Passamos pelo observatório, a praça principal, o grupo das três portadas até chegar novamente do outro lado, diante da rocha cerimonial, que imita a montanha Hayna Picchu ao fundo.



Chovia em Machu Picchu. Marco e eu já estávamos fartos de andar e a noite avançava pelo céu inca. Deixamos a cidade sagrada em direção a Águas Calientes. Ônibus a sete doletas? Fomos a pé. Caía uma chuva fina e um cachorro ia conosco – ora atrás, nos seguindo, ora na frente, nos guiando. Quando chegamos lá embaixo ele tinha sumido. Era uma alma de cão garantindo que chegássemos ao destino, brincamos Marco e eu.

Marco e eu com as bandeirinhas invertidas.

Peguei minha porção de água do Rio Urubamba (a coleção, já falei dela por aqui), tomamos banho e fomos jantar. Na mesa, as bandeirinhas do Brasil e da Argentina. Experimentamos o tal Pisco Sauer, bebida cuja autoria é motivo de briga entre Peru e Chile. Embora o dia fantástico, estávamos sem assunto. Marco e eu sabíamos que nosso tempo de parceria estava acabando.

Mas teríamos tempo para uma última viagem.

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