segunda-feira, 25 de maio de 2009

Na imensidão branca do salar

No meio do nada nós brincávamos. Fotos aproveitando a perspectiva: Daniel nos ombros de Shannon ou todos nós dentro de um boné sendo alimentados a biscoitos. Típico de turistas. No jipe, o cansado Jimi dormia.

O quinteto a Bolívia. Último dia de tour

Todos estávamos sonolentos quando acordamos para nosso terceiro e último dia de tour. Mas Jimi teria outros motivos que só ele pode explicar. Uma namorada em San José, sugerimos. Ou algo que fizera nosso motorista perder o horário de nossa saída. E que nos fizera perder o nascer do sol no Salar de Uyuni.

Jimi. Aventuras, ou outros motivos, o fizeram se atrasar. Mas é gente boa

Era ainda madrugada quando o impaciente aqui acordou. Não aguentava ficar na cama esperando o Jimi que tardava a chegar. Levantei e fui atrás de notícias, acordei um outro boliviano, que foi busca-lo. De onde o cara tirou Jimi não sei. Mas desconfio.

Entre quinuas e um iniciar de sal, o nascer do sol na Bolívia

Saímos apressados e com a cara amassada. Jogamos as malas sobre o jipe e entramos. Corríamos contra o sol, ou ao menos antes de ele surgir no horizonte. Jamais ganharíamos. O jipe levantava poeira por plantações da famosa quinua (alimento altamente protéico e só encontrado ali), quando a primeira pontinha alaranjada surgiu.



Era ele, o sol. Pedi para Jimi parar e fui apoiado sem muito entusiasmo pelos colegas de carro. Fui o primeiro a sair e me desloquei do grupo. Nascer do sol, em solo boliviano e rodeado de quinua. Não era o mesmo que o salar, mas já era alguma coisa.

Enfim, o branco

Foi com muita emoção e já sem mais sonolência que chegamos ao Salar de Uyuni. Quilômetros a fio de puro sal, ao menos oitenta até nosso próximo ponto. Pedi novamente para o carro parar, queria brincar naquela imensidão.

Às favas com a perspectiva, ficamos pequeninos

Os gringos estavam agora mais dispostos. Para onde olhávamos só víamos nada. O azul do céu e o branco do sal, mais nada. Fizemos aquelas fotos em que a perspectiva do perto e do longe é deixada às favas. O animado Daniel comandou as poses, posicionei a máquina no tripé e “flash”. Então, Jimi se vira mais uma vez no banco do carro e se dá conta do horário. De volta à estrada.

De longe, uma ilha. Bandeira boliviana fincada e cactus milenares

Mais algum bom tempo rodando sobre o nada até que uma ilha surgiu na nossa frente. A Isla del Pescado, assim chamada devido sua forma de peixe. Nela, cactus milenares e com mais de dez metros de altura buscam no céu um abrigo do branco de ofuscar olhos cá debaixo. Sobreviventes e fenomenais.

Mais cactus, mais branco e mais personagens

Apreciar o salar do alto da ilha é se aproximar de um algo a mais, muito além disso e daquilo. Talvez aquela ausência de cor, ou somatória de todas para ser mais preciso, signifique algo. Uma tentativa de comunicação em forma de branco, de nada. Confuso e difícil de explicar, bem difícil. Mas emocionante.

Do alto da ilha, tudo parece pequeno




O sal nos esperava também no hotel feito dele. Dormiríamos por ali não fossem os problemas nos carros da frota. É nada não. Lambemos paredes e estátuas para provar a matéria-prima da argamassa. Sal puro.

Hotel de sal. Eu provei, é sal

Fim de salar, fim de viagem

O almoço foi numa vila, no Salar de Colchani, onde compramos algumas bugigangas e lembranças. Comprei um rak sak (aquela bolinha de pano cheia de milho para ficar chutando) e desafiei os gringos para um “altinha”. Eles não sabiam do que eu estava falando.



Cansados, demos chance para uma última parada. Um cemitério de trens, resquícios dos tempos gloriosos em que o comercio de prata, vindo das minas de Potosí, era grande naquela região. Hoje, são carcaças. Cadáveres.

Cadávares a céu aberto. O cemitério de trens é nossa última parada

Na pequena cidade de Uyuni, respiro antes das próximas aventuras na Bolívia, começou o clima de despedidas. Primeiro do Jimi, nosso motorista e amigo. E depois dos parceiros de viagem.

Venda colorida em Uyuni. Parada para respiro e despedidas

Comprei um descongestionante nasal para aliviar o seco e a poeira de dias acumulada em minhas narinas, que eram puro sangue seco - por toda viagem, andava com um lenço molhado debaixo do nariz, mas aquilo já estava me matando. Descarregamos fotos em uma lan house; a atendente, uma criança, fedia a salgadinho. Atualizamos internet. Estava tranquilo, andando com o Daniel atrás de comida, quando me dei conta. Meu ônibus estava saindo.

Correria, típico. Talvez seja sina correr atrás de ônibus. Ou pior, seja sina conviver com este sôfrego eu. Corro para não perder a lotação e vocês se preparam para não perderem a viagem.

Um comentário:

Isangela disse...

Que nascer do sol é esse... e seus companheiros não se entusiasmaram??? Não dá p/ acreditar.
As fotos em perspectiva ficaram excepcionais!!!

mais uma vez a saga de: Murilo e seu sôfrego eu ... rsrsrsrs

Sds,