sábado, 6 de outubro de 2012

Dia 11: Da concha do renascimento, surge Vênus

E aí pessoal (cansei do italiano)

Décimo primeiro dia na Itália (25/02). Dia de sol hoje, acordei bem melhor da gripe, embora não tenha conseguido dormir a noite - alguma dica mamma? Fiquei rolando na cama, dormia e acordava. Sei lá. Mas tô bem, o nariz vaza e ainda tusso, mas tô melhor. Acho que é por causa do tempo, no frio eu fico com o corpo meio baleado mesmo.
   
A Ponte Vecchia sobre o Rio Arno. Medieval, hoje é um mercado de joias.

Bem, hoje foi dia de conhecer o Rio Arno e a Ponte Vecchia, um dos cartões-postais de Firenze. A história é interessante. Ela foi construída lá pelos idos de 1300 e alguma coisa. Era usada por açougueiros e vendedores de peixe. Era uma fuzarca, bem popularzona mesmo, para deixar a Ponte da Amizade no chinelo. O pessoal jogava o lixo no Rio Arno e era aquela porcaria. Mas então chegou um chefão qualquer e pôs ordem na coisa, trocou toda aquela bagunça por joalherias. Elas estão lá até hoje. Durante a Segunda Guerra Mundial, ela foi a única que cruzava o Rio Arno que não foi colocada abaixo pelos alemães. Acredita-se que por ordem do próprio Hitler, que não queria destruir esta preciosidade.
A ponte Vecchia, por onde os boa-vida da família Medici cruzavam sem pisar no solo

Colocado depois: a ponte foi construída em 1333, era de madeira e foi derrubada por uma cheia do Rio. Aí foi reconstruída em 1345. Diz-se que o termo bancarrota teve origem ali: quando um mercador não conseguia pagar as dívidas, a mesa (banca) era quebrada (rotto) pelos soldados.

O Rio Arno divide Firenze em o lado de lá e o lado de cá, tendo como referência o Duomo, ou a catedral de Santa Maria del Fiore. A ponte tem outra função interessante. Do lado de lá, tem o Palácio Rici, construído pelos Rici, mas que ficou tão caro que teve que ser vendido a um membro da família Medici (a família mais rica na época áurea de Firenze). Eu cruzei a ponte e fui até o tal Palácio. Bem interessante, bem palácio mesmo. Com seus quartos, salas, ante-salas e banheiros. Guarda uma coleção interessante de pintores do Renascimento do calibre, por exemplo, de Raffaello Sanzio, Giorgio Vasari, entre outros. Perdi um bom tempo no castelo. Mas então voltei para a cidade.
Bem, eu vim pela rua, mas um membro da família Medici que quisesse chegar ao escritório, os chamados ufficci ("escritórios", em italiano), poderia ir por cima, pelo castelo, que é conectado aos outros prédios, indo em direção a ponte Vecchia, passando a ponte ainda em uma contrução elevada, dobrando a direita, e chegado ao Ufficci. Sem pisar no chão.

Renascimento

Eu tive que pisar, e cheguei à galeria degli Ufficci, onde está a maior coleção de arte renascentista do mundo. A coleção dos Medici. É muito interessante, começa no trecento (século 13), com as obras ainda saindo da arte bizantina e começando o renascimento. O destaque são os quadros religiosos de Giotto, todos muito dourados e com traços já parecidos com o que viria depois.
  
 O Nascimento de Vênus, obra máxima do Renascimento (foto da internet)

E o que veio depois foi a explosão de Sandro Botticelli e Leonardo da Vinci, assim, um depois do outro, covardia. Era o quatrocento (século 14) o período áureo do Renascimento. Aparecem algumas obras de Fra Filippo Lippi, que inspiraram Botticelli, e outras de Andrea del Vecchio, mestre de Da Vinci. Uma obra mostra sete virtudes do homem, Piero del Pollaiolo tinha feito seis, mas Botticelli fez a sétima, Fortaleza, muito melhor que aquelas do anterior.
A Primavera, outro de Botticelli. É proibido fazer fotos nei Uficci, por isso, fotos na internet

E então vei a sala dele. Botticelli, e O Nascimento de Vênus, o quadro mais famoso do Renascimento. Eu ficava naquele frenesi de quando eu veria o tão aguardado quadro e, de repente, ele estava lá. No meio da sala. Muito emocionante. E muito lindo, não pelos traços, que já beiram o maneirismo (outra escola), mas pelo significado da obra. Na mesma sala, outra obra-prima do mestre Botticelli, A Primavera, também lindíssimo. Fiquei um bom tempo apreciando a sala de Botticelli, e na sala ao lado, Da Vinci. Só dois, A Anunciação e um quadro inacabado.
Da Vinci, com seu belo A Anunciação

Aí começa o quintecento (século 15) que é o final do Renascimento. Época da descoberta da América e da morte de Lorenzo de Medici, quando Firenze entra em declínio. Mas o quintecento tem as obras de Michellângelo (no Ufficci só tem uma) e Rafaello, outro gênio e seus retratos de olhos esbugalhados. Termina com os quadros escuros de Ticiano. Uma verdadeira aula, passando por obras belíssimas.
  
Piazza de Santa Cruce, onde eu passaria meu aniversário dois dias depois

Achava que já estava bom para o dia. Dei mais uma pernada pelo Ufficci, voltei à sala de Botticelli para me despedir de Vênus, e caminhei até a Piazza de Santa Cruce, bem bacana, com uma linda igreja. Tomei um café enquanto preparava os próximos roteiros. Já era noite. Viajar no inverno já é ruim, ainda mais se o inverno for o europeu. Aqui escurece depois das cinco da tarde, um saco (saudades de quando eu chegava as seis em casa, tomava uma hora de sol, ia para academia e, quando voltava, passado das 20h30, ainda era dia).
  
Vista da Piazza del Michellângelo, uma das várias réplicas de Davi e a ponte Vecchia.

Aí dei uma corrida até a Piazza del Michellângelo, onde tem uma réplica do Davi e uma interessante vista de cidade. Fiz algumas fotos com a máquina que resolveu voltar a trabalhar. E voltei para casa. Agora to tomando um chá com mel e daqui a pouco vou dar uma volta com Vanni. Amanhã tem muito o que ver. Vou começar com o Davi original, que está na Galleria dell' Academmia. É a principal escultura do Renascimento, quiça de toda história. Também quero conhecer outras igrejas e dar mais uma passadinha no Duomo. Ainda vou para Pisa, mas não queria deixar para fazer isso no dia 27, não quero ficar viajando em meu aniversário.
  
Vanni, meu chapa de Firenze, em uma festa underground. Loco!

No mais é isso. Hoje o dia foi ótimo, bem cultural mesmo. Vamos esperar para ver Davi amanhã.

Beijão,
Murilo

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