quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Círculos, sal e uma árvore ao chão

A última machadada é desferida sobre o tronco da árvore, que não aguenta e tomba. O autor do golpe olha para os lados, seus amigos lhe apontam. Riem. Apesar do dia de festa, ele respira descontente: acabara de adquirir uma enorme dívida.

Em nossa peregrinação pelo vale sagrado de Cusco, Marco e eu seguimos de Ollantaytambo a Maras, povoado localizado a 46 km de Cusco, na província de Urubamba, a 3.380 metros de altitude. Na região, ficam as águas salinas e as ruínas de Moray, nossas próximas paradas. De van, fomos à primeira delas.




Os espelhos d'água das águas salinas.


As águas salinas ficam em Qoripujio, 4 km de Maras, e são exploradas desde a época dos incas. É um enorme aglomerado de tanques, cada um com 5 metros de largura, cheios de água salgada exudadas pela montanha. Em épocas secas, o sol evapora a água deixando o sal.

Segundo a lenda, os primeiros maras surgiram quando Ayar Cachi (“Senhor do Sal”) converteu as montanhas nas proximidades de Cusco. Este povo fazia um importante intercâmbio econômico com os incas e, ainda nos dias de hoje, Maras é a maior produtora de sal do Sul do Peru.


Estradas que levam a Moray

Para as minhas lentes e às de Marco, o que importava era o brilho dos cristais de sol que deixavam a paisagem radiante. Fizemos algumas fotos, apreciamos o lugar e fomos para a segunda parada.

Os círculos de Moray

Aquele momento no carro foi um dos mais bacanas da viagem. Música ao fundo, o Marco conversando com o motorista e eu, na minha, com a cabeça encostada no vidro apreciando paisagens lindas: o céu glorioso, as nuvens fazendo sombra sobre a cadeia de montanhas de Vilcabamba e, em primeiro plano, pastores de ovelhas e campos com flores amarelas.


Momento by myself da viagem. Ótimo.

Moray é impressionante. São imensas crateras em círculos concêntricos, algumas com mais de 100 metros de profundidade, divididas em diferentes níveis de altitude. Eram usadas pelos incas como um laboratório agrícola – para cada nível, um diferente microclima especializado em uma cultura. No total, eles podiam cultivar 250 espécies de plantas.


Os impressionantes círculos de Moray.

As crateras parecem anfiteatros naturais. Cheguei a imitar o Pavarotti enquanto explorava o local. É interessante descer a escadaria, ficar no centro dos círculos e imaginar como este antigo povo era avançado.


Cena bucólica, como se fosse pintada a mão.

Já era tarde. Deu tempo de dar uma última olhada nas montanhas e o tapete amarelo de flores aos seus pés. O motorista nos levou até Maras onde pagaríamos o ônibus para Cusco. E no caminho, nos contou sobre a Kaswa, a festa de carnaval do povoado.



Fim do dia em Maras. Agora, Cusco.


A tradição acontece em fevereiro. A Yunza é o ritual que junta os solteiros da cidade na praça central: eles ficam tomando chica morada e dando leves machadas em uma árvore que é plantada no dia anterior. Quem derruba a árvore fica responsável por organizar a festa do próximo ano – o que não sai barato, cerca de 2 mil soles.

Assim, mesmo com as músicas, as danças e a chica morada, o nosso colega solteiro do início do post acaba terminando a noite um pouco mais pobre.

Nenhum comentário: