quarta-feira, 17 de julho de 2013

Dia 20: as costas da Itália

Vigésimo dia na Itália (06/03). Dia longo. Estou com saudades da Bruna (digam isso para ela). Não me lembro se já falei para vocês sobre o conceito de saudade específica. Desenvolvi este conceito quando morava em Curitiba, ainda na casa dos Coppi. É quando, apesar de estar longe de um monte de gente querida, do nada bate uma saudade danada de uma pessoa específica. Já tive isso na viagem com a tia Fátima. De repente, bateu uma saudade louca dela. Ontem foi da Bruna, mia fratella carina. Por isso sonhei com ela: a Bruna era uma lutadora meio ninja e estava sendo desafiada por um japonês. Eram quatro irmãos japoneses contra nós três (Bruna, Paulinho e eu). Aí a Bruna foi lutar contra o menor deles e eu fiquei preocupado que ele batesse nela. Aí, ele deu três golpes e ela desviou dos três e deu uma só. Um porrada no pescoço do japa, que jogou ele longe. Aí os irmãos foram embora, eles estavam na parte debaixo da escada e nós em cima e eu disse: "amanhã é a nossa vez" (se referindo ao Paulinho e eu) e fizemos uma pose de lutadores, os três irmãos. Hilário.


O dia era da belíssima Sorrento. Positano e Amalfi também

Foi com esse sonho na cabeça que acordei para tomar café. De novo eu era o primeiro. Tomei um café mais demorado e subi ajustar minhas coisas. Deixei o tênis no Sol e peguei o pior tênis de todos, um de salão que trouxe para jogar bola com os milaneses e que nem teve jogo. Ele me dói os pés, é apertado, pequeno. Não laceia nunca. Enfim, peguei o metrô pá, conexão pá, trem pá. Uma hora para chega a Sorrento, já estava cansado. Mas cheguei.



Fúlvio, Laura e a cadelinha Stella (Il tuo biglietto per il paradiso)

Havia escrito para uma amiga CouchSurfing para tomarmos alguma coisa em Sorrento. A Laura e o namorado Fúlvio estavam me esperando na estação. Gente boníssima, me levaram para ver a melhor paisagem da cidade, o Mar Tirreno azulíssimo, o Vesúvio ao fundo e Napoli pequenina. Lindo. Tomamos um caffé (misturado com Nutella) e um doce de limão local. A cidade é famosa por seus limões, azeite de oliva e caixinhas de madeira. Há várias lojas vendendo produtos à base de limão e as ruas da cidade são repletas de limoeiros e laranjeiras. Peculiar.


Sorrento, famosíssima por seus limões. Eu comprei uma pinga para o pai e quebrei a garrafa

A cidade vive do turismo. Tem 10 mil habitantes. No verão chega a 110 mil pessoas. Ela é, assim como o Sul da Itália, espanhola. O Fúlvio disse que o Norte da Itália é alemão e o Sul espanhol. Por isso as coisas funcionam lá e não aqui. Por isso no Norte trabalham direto e jantam cedo e, no Sul, tem a famosa ciesta depois do almoço e eles jantam a noite, as dez, como os espanhóis.


O azulíssimo Mar Tirreno e o imponente Vesúvio

Fúlvio disse mais. Apontou para o Vesúvio e contou que no passado o vulcão era o dobro do tamanho. A erupção fez ele perder grande parte do que era. Sobrou para Pompéia que ficou soterrada, não pela lava, mas pela montanha. O lugar onde estávamos, disse, é fruto de erupções vulcânicas ainda mais antigas. De fato, a península de Sorrento tem rocha e areia negras.


Arqueologia de Sorrento. Se começar a mexer, a cidade inteira é tombada

Andamos mais pela cidade sempre com a cachorra Stella à tiracolo. Sorrento foi construída sobre templos gregos. Se começam mexer, tombam a cidade toda e aquele belo lugar vira sítio arqueológico. Melhor não. Mas então, dia de ônibus, fui pegar um para fazer a Costa Amalfitana, as cidadezinhas que fazem esta costa para o  Mar Tireno.


Passagem de Amalfi fechada. Mudanças de planos e carona

A passagem para Amalfi estava fechada. Catzo. Esperei o ônibus para Positano e fui embora. A vista pela janela é de tirar o fôlego. Cidades inteira na encosta estreita, nas rochas. E o mar azul, azulíssimo. É interessante como um momento bucólico pode virar terror quando uma criança começa a entoar o cântico preferido: chorar. Mas não é choro por razão. "Ai, estou doente", "Ai, perdi um ente querido", "Ai, perdi um dedo". Não, é choro por choro. O ato pelo ato, tal como os parnasianos, a arte pela arte. O choro pelo choro. E um ônibus todo irritado com aquele barulho.


Em Positano, molecada jogando bola em área proibida. #vemprarua

Baixei em Positano com os ouvidos assoviando. O pai teria um piti, certeza. Desci as ingrimes ladeiras até pisar na praia. Nada de areia, pedras redondas, mas muito bonito. Aí sim curti um momento sozinho gostoso, molhar os pés (quando voltar para Foz deixo eles uma semana na salmora), brincar com as pedrinhas. Agradável. Ver os pais de família e seus filhos jogando pedrinhas. Eu deitado, relaxado entre as pedrinhas límpidas. Aí vi um cão fazendo xixi não tão longe e tive nojo. Catei minhas coisas e fui andar.



Cascalho, seixos, pedregulhos. Tudo menos areia. Pais, filhos e cães

Vi gatos, seres impossíveis de serem fotografados (ou fogem da máquina, ou vem para cima dela para ronronar e chafurdar). Andei mais um pouco até uma praia escondida. Linda. E fui embora. Comprei um pão, subi ladeiras comendo seco. E peguei uma carona para Amalfi - eu que não iria chegar até ali sem conhecer mais uma das quatro Repúblicas Marinaras (ficou me faltando Gênova). A estrada estava fechada para ônibus, não para carros.


Gatos, estes seres (quase) impossíveis de se fotografar.

Os caras do carro, um italiano chamado Emílio e outro romeno de nome que ignoro, trabalham com pavimentação. O carro cheira a produto químico forte, talvez cola, mas eles não estão nem aí. Acostumados, devem ficar grogues o dia todo. Mas gentes boas. Fui vendo a costa e as paisagens pelo carro e ele me explicando. Cheguei a Amalfi, agradeci aos dois e fui andar um pouco. Até perto da água e, antes de ir ao centro, tive a curiosidade de perguntar qual o último ônibus para Sorrento (a estrada estava novamente aberta para ônibus). "É este", disse o motorista. Não deu tempo para nada, olhei Amalfi rapidão e peguei o ônibus de volta.


Em Amalfi, olhada rápida, posar para foto e v´mbora

Fiquei quase duas horas no ônibus. Nada de glamour, nada de luxo, um congestionamento infinito nos segurava a poucos quilômetros de Sorrento. Tem muito carro na Itália, a esta hora ouço buzinas ainda (por que o pessoal não fica em casa, pai?). Pedi para descer, preferiria andar dois quilômetros a pé a ficar naquele trânsito. O impaciente.


Vendedor de redes e seu bichano

Cheguei a Sorrento e o simpático Fúlvio me convidou para ver Roma e Milan na TV, com uns amigos dele e com pizza. Ótimo. Fiquei batendo papo e comendo uma ótima pizza, no intervalo vi que dava tempo de correr e pegar o rem das 21h37. Corri, mas, burro, tinha esquecido uma sacola e tive que voltar. Não daria tempo, mas corri. Cheguei bufando na bilheteria para comprar o ticket, o trem tinha acabado de sair. Esperei, esperei, esperei até o trem das 22h25. Passei mais de uma hora tentando dormir, cansado e mal humorado no trem (do especial: “como um passeio bacana se transforma num saco”). E cheguei a stazione centrale.


Fim do dia dentro do ônibus. Roma e Milan me esperavam

Tudo o que eu queria era chegar ao hostel. Corri para o metrô, mas, tchan-tchan-tchan: não havia mais metrô. Catei o mapa, sempre no bolso traseiro direito, e fiz a pé o percurso. Andei por uns lugares meio estranho, nada de mais, mas Napoli é conhecida por sua máfia e pela violência. Ruas sombrias, intermináveis. E eu pensando que a qualquer momento alguém ia pular armado na minha frente. Enfim, cheguei vivo no hostel.

Um banho, massagens nos pés e descanso. Amanhã eu iria para Pompéia , mas que nada, vou ficar por aqui. Descanso no hostel, conheço alguma coisa de Napoli, sem compromisso, para pegar o navio para Palermo. Será uma loooonga noite. Talvez sonhe com o Paulinho, a Bruna e eu dando um pau nos japoneses.

Ou nos napolitanos.

Beijos a todos (bem-vinda Bruna), maus pelo grande email, mas sabe duma coisa? Isso relaaaacha a gente, hehhhe.

Murilo

terça-feira, 9 de julho de 2013

Dia 19: Vesúvio e eu

Dia curto. Dia longo.

Décimo nono dia na Itália (05/03). Dia curto. Estou cansado de caminhar. Os pés, os tornozelos dóem de verdade. Vou dar um descanso para eles. Mas o décimo nono dia começou com um café da manhã. Foi um dia meio deprê. Quando cheguei ao hostel achei que ia entrar naquele clima de hostel. Adoro este clima. Conhecer pessoas diferentes, de outros países, outras culturas. Mas ou eu esteja pouco receptivo ou esteja com má sorte. Na festa, no noite em que cheguei, fiquei mais perdido que pinto em galinheiro errado (gostaram? acabei de inventar). Fui dormir para acordar cedo.

Café, estava falando sobre isso. Fui o primeiro a tomar café, fiquei ali, chegou um grupo de franceses que sentaram ao lado. Fiz minha torrada, meu cereal, meu café aguado. Aí chegou um cara puxando papo em inglês, pedindo se podia sentar à mesma mesa. Eu falei que estava de saída. É, eu não estou sendo receptivo.
 

O chovisco e o cartaz mostram a sina de quem viaja sozinho

Bem, o dia era de Vesúvio. Arrumei minhas trouxas e fui pegar a Circumvesuviana, a linha de trem que circunda todo o Vesúvio. Parei na cidade de Erculano, no trem, sempre buscando alguém para conversar. Nada. Peguei o tour, uma família, uma mulher e um china. Fiz a subida toda sozinho, olhei lá dentro na cratera. Foi interessante ver um vulcão que eu sempre quis conhecer. Mas sozinho?

Dia de neblina na subida do Vesúvio

Nunca tive problemas em fazer as coisas sozinho. Na verdade me dou bem comigo mesmo. Se fico muito tempo com outra pessoa, a não ser que ela seja como eu (o Marcão, da viagem pela América Latina, por exemplo, ou o Juttel da outra vez que vim pra Europa), perco a paciência. Gosto de tomar as decisões por mim mesmo. Quero ir pra cá agora? Vou pra cá agora. Não está no roteiro? Dane-se.


A cratera do Vesúvio. E eu sozinho

Mas tanto tempo viajando sozinho perdeu um pouco de seu glamour. É chato estar do alto de um vulcão histórico, que soterrou cidades inteiras, sentir a emoção de ver os gases saindo, a cratera e tals. E não comentar com ninguém. Resumo da Ópera: tem horas que viajar sozinho é um saco. Tem horas que não. Fico falando sozinho, curtindo meu momento, minhas piras. Fazendo minha viagem. Mas em outras, faz falta alguém para papear.


Por isso que, ao chegar ao sítio arqueológico de Erculano, Patrimônio da Humanidade, não tive a menor vontade de descer para conhecer. Teria que pagar, pegar um audioguia, andar um monte. Para mim, bastam o Foro Romano e o Palatino. Vi o sítio arqueológico por cima e tchau e benção.


Grande Cão de Napoli, história criada pela mente de quem está há muito tempo sozinho

Voltei meio deprê para Napoli, mas pá, me animei de novo. Peguei o metrô para chegar ao porto. Perguntei e me falaram que é longe, uns três quilômetros. E lá isso é longe pra mim. Andei. Andei, andei e andei. Desviei de cocos de cachorros e de lixos na rua. É uma tradição local. Ouvi a sinfonia de buzinas que não acaba nunca nesta cidade. Encontrei o Grande Cão de Napoli [piada interna]. Contei os barquinhos mil, que entopem a vista do mar. E continuei caminhando. Até que resolvi perguntar de novo. O porto era do outro lado. Os tais três quilômetros tinham virado nove.




Pois bem, voltei. Andei tudo de novo, vi um senhor estranho catando água do mar e me vi, velho e louco, com minha coleção de águas. Alguns caras me pedirarm trocados, outra tradição local. E começou a chover, pasmem, outra tradição. A sombrinha comprada em Verona, providencial, não impediu que eu ensopasse meu tênis e a barra da calça. Mas cheguei ao porto. E comprei o bilhete para Palermo. Teria, no outro dia, uma noite toda viajando de barco, nada de luxo, nada de glamour, nada de romantismo. Um banco, ruim como os de trem, para passar a noite e chegar moída em Palermo. Ao menos custou relativamente barato.




Para voltar para casa, busquei o mapa, sempre no bolso traseiro esquerdo (minha regra 1 de viagem, aliás, a única regra). Bati umas coordenadas, perguntei aqui e ali, comprei uma Fanta, enfrentei a frenética Via Toledo com suas lojas de roupas baratas (só não compro pq se coloco mais uma pena na mochila, fico na Europa). E peguei o metrô de novo. Aqueles mil lances de escadas rolantes e estava no hostel. Festinha de aniversário, eu cansado. Tomei um banho e fiquei mexendo no computador, ajustando alguns parafusos da viagem. Fiz amizade com ninguém...

Dia 18: Moisés completa a trindade de Michelângelo

Décimo oitavo dia na Itália (04/03). Gente boa o Lorenzo. Francesca também, sempre radiante, com um sorriso contagiante. Fala rindo, e se mostra interessada pelo que você diz. Me despedi dela com dois beijinhos e cobrando uma visita ao Brasil. Então fui de carona com Lorenzo ao mesmo ponto de trem, perto do trabalho dele. Lorenzo trabalha em uma empresa que fiscaliza o consumo de energia elétrica. Foi o que entendi. Mas é ator nas horas vagas. Assisti a seus testes, interessante. Ele é do tipo charmosão, bonito e alto, e sempre se despede levantando o canto esquerdo da boca e piscando de leve o mesmo olho.

Para fechar a trindade de Michelângelo, Moisés, na pequena chiesa de San Pietro in Vincoli

Nos despedimos e peguei o trem. Vim conversando com um jornalista de teatro. Falei de Lorenzo. Depois peguei o metro para a estação, deixei minhas bagagens e fui bater perna. Dia rápido, só corrigir algumas faltas. Como a de não ter ido até então a chiesa di San Pietro in Vincoli, onde está a estátua de Moisés, a terceira da trindade de Michelângelo (Moisés, Davi, Pietá). Bela. A igreja também, pequena e sem fachada de igreja. Ali perto, a Santa Maggiore, com teto quadrado. Belíssima.


A belíssima Santa Maria Maggiore

Continuei caminhando, alcancei o bom e velho coliseu e fui pegar a água do Tevero. Passei pela Boca Della Veritá e uma fila para colocar a mão dentro. Necas. Descansei às margens do Tevero, vendo uns pescadores. Coleta da água, pensei que era hora de ir de vez. Ia pegar o trem das 16h42, mas adiantei em duas horas. Corri para a estação olhando para tudo como se fosse a última vez. Diz a lenda que, se joga a moeda na Fontana di Verdi, você volta a Roma. Nunca se sabe.

A Boca Della Veritá. Passei duas vezes por ela, mas não coloquei a mão em sua boca.

Na estação usei o banheiro e comi alguma coisa. Um brioche de chocolate, como sempre. Busquei a passagem e fui esperar o trem. Consegui um lugar no último vagão. Senhora simpática conversando comigo e me dando de comer, hehehe. Ela me fez experimentar um negocio que parece uma cebola, mas tem o gosto suave. Interessante. Na janela, o mar começava a aparecer. Estava meio aflito em chegar a Napoli, cidade de mafiosos, do sul, mas feia e desorganizada.


Fim de dia em Roma, vendo italianos pescarem no Rio Tevero.

Que nada, fui bem tratado nas informações turísticas da estação. Peguei metrôs organizados e agora estou aqui no hostel. Faz um pouco de frio, é certo, mas vou poder tomar um banho quente e jantar com o pessoal daqui. Amanhã, conheço Napoli, depois a costa Amalfitana e, por último, o Vesúvio. Tô vendo que a Grécia vai ficar para próxima.

Ufa, três dias em um e-mail. Se tivesse a mesma frequência para escrever meu blog, ele seria um sucesso.

Beijo a todos que chegaram até aqui. E abraços a quem ficou pelo caminho. Amo vocês,
Murilo

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Dia 17: a criação de adão

Décimo sétimo dia na Itália (03/03). Fiquei mais tempo na cama, estava cansado. Deixei o Lorenzo sair e fiquei me enrolando. Era um dia especial, dia de voltar ao Vaticano e ver a Capela Sistina. Foi o que eu fiz, meio tarde, depois das 10 e pouco, fui pegar o ônibus para o Vaticano. Sabia de cor, primeiro o 301 até a Ponte Mílvio e depois o 32 para Piazza do Resorcimento. Caminhei para o museu, estava com fome, não tinha comido nada. Mas fui ao museu ainda assim.


O museu é enorme. Na verdade são museus. Tem um egípcio bem completo, com estátuas egípcias interessantes, múmias e papiros. Com o audioguia fiquei perdendo algum tempo ali. Depois tem museus de estátuas, um jardim das estátuas, a sala das musas, outra sala de mapas, outro de arte sacra. E por aí vai.



O negócio começa a esquentar quando vamos andando por áreas onde eram quartos papais. Tem a sala da assinatura, onde está a obra mais famosa de Rafaello Sanzio, A Escola de Atenas. Um afresco belíssimo (pude filmar e bater foto) mostrando os grandes pensadores, filósofos de todos os tempos. Mostrando bem a cultura do Renascimento, valorizando a razão. Na parede oposta, tem uma outra obra muito bonita, A Disputa da Santíssima Trindade, mostrando a Igreja Triunfante (o céu) e a igreja participante. O Rafael manda bem. Em outra sala, a do Incêndio de Borgo, outros afrescos belíssimos de Rafael.


Então cruzamos mais corredores e, voilá, a Capela Sistina. Pequena, se comparada a outras igrejas que vi. Cheia de turistas, e de caras falando "no pictures", "no photos", "sssssshhh". Um saco. Com o audioguia fui vendo parte por parte das obras de Michelangelo. O estupendo Juízo Final, em azul, com os braços de Jesus mostrando o sentido de leitura do quadro, a disputa de anjos e demônios pelo céu. Sensacional.


Correndo o pescoço pelo teto da Capela, lá estão nove desenhos mostrando o livro do gênesis. Da criação da luz, passando pela criação do sol e da lua, a separação da terra em água e, a mais célebre pintura de todos os tempos: A criação de Adão (aquela em que Deus estica o dedo para tocar o de Adão). Emocionante. Segue-se A criação de Eva, o pecado original e três passagens de Moisés, do anúncio ao dilúvio. Nas paredes laterais, histórias de Jesus de um lado e de Moisés de outra, assinados por outros atores como Perugino e, pasmem, Botticceli.


A capela é linda, é a capela mais famosa do mundo. Mas eu estava farto, com fome e cansado. Saí do museu do Vaticano e fui bater perna. Ali pertinho, a mulher queria 5 euros em um panino, 8 se eu comesse ali. Estava com fome, mas não sou burro. Andei mais. Passei pelo castelo Sant' Angelo e depois pelo palácio da justiça. Cruzei o Rio Tevero de novo em direção à Piazza Navona. Parei em um restaurante, pedi uma pizza marguerita. Enorme. Comi com Coca-Cola. A dor de cabeça passou.


Matei mais um tempo na Piazza Navona, tomando sorvete e vendo os pintores fazerem seu trabalho. Experimentei um tal Tartufo, em uma sorveteria onde, no dia anterior, havia conversado com uma brasileira de Rondônia. Ela não estava lá. Caminhei em direção à piazza Venezia, em busca de ônibus. Havia marcado às 20h com Lorenzo e Francesca, iríamos à casa de um amigo dele. Caminhei um monte até achar o terminal. E depois para pegar o ônibus correto. E depois esperar o ônibus sair, dar um giro pela cidade toda até a capodelinea na Via Marcini. E mais um outro ônibus para via Cássia. Quando estava chegando a casa, eles já estavam no carro.


Foi bacana jantar o meio da italianada. Vinho, alcachofra frita (tradicional de Rama), mussarela de búfula, alguns salames. Fiquei conversando com Lucca sobre música brasileira. Ele é veterinário e toca saxofone (lembrei da Bruna na hora). Depois comemos um (não lembro o nome da pasta) ao pesto, um molho verde bem bom. Me despedi do pessoal, romano dá dois beijinhos no rosto, tanto homem como mulher. E fomos para casa. Dormi para acordar em meu último dia em Roma.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Dia 16: praças e ruínas em um dia de andança

Escrevo de um hostel bem bacana em Napoli. Eu adoro hosteles. Cheguei aqui cansado e o cara foi bem receptivo, fala em português e me deu um monte de dicas sobre a cidade. Vou ficar mais tempo que esperava. Mas voltamos um dia no tempo.

Um dia de andança sem rumo por Roma

Décimo sexto dia na Itália (02/03). Peguei o dia cedo para fazer pequenas coisas. Fui de carona com o Lorenzo até uma estação de trem para baixar na Piazza del Popolo. Dia quente, de sol. Pessoas por ali andando, ou sentadas próximas aos leões no pé do Obeslisco. Caminhei pela praça e sentei para tomar um caffé machiato com una brioche. Fiz meu plano de passeio do dia, o primeiro passo seria conhecer a chiesa de Santa Maria del Popolo, Pequena, mas muito bonita, cheia de capelas. Em uma, de graça, duas obras de Caravaggio, Conversão de Saulo e Crucificação de Paulo. Belíssimas.


Chiesa Santa Maria del Popolo e o Obelisco na Piazza del Popolo 

Mas o dia prometia mais. Passei pelo Mausoléu de Augusto, onde tem uma fonte bacaninha, depois fui em direção a Piazza Venezia, caótica como sempre. Estava me enrolando, passei pela Piazza Spagnia antes, onde tem uma belíssima escadaria com uma igreja lá no alto. Subi, tomei um sol, descansei. Voltei a caminhar, agora sim, para o que interessava: o foro romano e o palatino.


A linda Piazza di Spagina e La Fontana di Trevi, ambas à luz do dia

Perdi algum tempo por lá. Tentando entender o que a mulher do audioguia falava. Mostra onde os romanos trabalhavam, seus tribunais, e suas casas. Muito interessante, ruínas sobre ruínas, mas dá para ter uma ideia, mínima ao menos, de como era. Fiquei um bom tempo por lá, mas estava com fome. Dei a volta no Foro, passei pela frente do Coliseu de novo, e fui até a praça Boca della Veritá. Tem uma cabeça com uma boca onde todo turista bota a mão. Não fiz isso. Cruzei a ponte Palatino, estava cansado. Caminhei mais um pouco até a Piazza Navona, onde está nossa embaixada e a fonte dei quatri fiumi. Fiquei um tempo lá.


Tempos antigos. Ruínas e mais ruínas no Foro Romano e no Palatino

Piazza gostosa, cheia de artistas, músicos e pintores. Tomei um sorvete, e fiquei ouvindo uma cantora cantar em francês no meio da rua. Bello. Sentei-me em uma mesa no restaurante da frente e pedi um spaguete óleo e pimenta (eu tinha me esquecido como era pimenta em italiano e pedi sem saber. Estava forte que era o diabo). Comi ouvindo a cantora.

A noite, a caótia Piazza Venezia (de perto, o monumento nem parece tão caótico)

Aí corri andar. Tinha marcado com o Lorenzo em outra parte da cidade, mas com meu mapa mágico no bolso, faço tudo. Sai batendo perna, cruzando via Vitorio Emanuelle, passando pela Piazza Venezia a noite, dando a volta e chegando ao Coliseu, onde fiz algumas fotos noturnas. Aí, fácil, via Cavour e já estava onde tínhamos combinado. Compramos uma cerveja local e ficamos jogando conversa fora. Ele tentando falar: "Leite quente faz mal para o dente da gente". Impossível.

Colosseo a noite. Igualmente lindo

De carro, fomos encontrar Francesca, a namorada de Lorenzo. E jantamos em um restaurante mais ou menos. Eu comi o antepasto, um monte de verduras, queijos e legumes, e depois um nhoque. Estava farto. Aí paguei a conta para nós três, o mínimo que poderia fazer por quatro dias de hospitalidade do casal.

Voltamos para a casa. Era noite e eu estava cansado. No outro dia teria uma visita diferente para fazer.